Estádios da Copa consomem o dobro das obras do Rio São Francisco
José Cruz
Os R$ 7,1 bilhões previstos na Matriz de Responsabilidade para construir 12 estádios para a Copa do Mundo são quase o dobro dos R$ 4,2 bilhões que o governo aplicou em oito anos na transposição do rio São Francisco, gigantesca obra projetada para beneficiar oito milhões de pessoas, em quatro estados.
Os valores, apurados por Gil Catello Branco, da Associação Contas Abertas, demonstram que em apenas dois anos as prioridades do futebol em 12 capitais superaram históricas promessas de ações sociais e de interesse da população nordestina.
“Os ganhos com a transposição do rio São Francisco são infinitamente superiores aos resultados que teremos com elefantes brancos para sediar jogos da Copa do Mundo”, disse Castello Branco.
O estádio de Manaus, por exemplo, com capacidade para 44 mil pessoas e orçado em R$ 1,02 bilhão, receberá apenas quatro jogos da Copa 2014, e é um dos “elefantes” previstos para o pós-Copa.
Saneamento
Gil faz outra comparação, desta vez com um dos setores de maior carência no país, o saneamento básico, que atende apenas 57% da população brasileira.
“Nos últimos 12 anos, o governo federal destinou 9,8 bilhões para obras de saneamento. São irrisórios R$ 2,7 bilhões a mais do que está sendo aplicado na construção dos estádios, em apenas quatro anos”.
O polêmico projeto do trem bala, ligando Rio a São Paulo, também entra no rol das comparações.
Orçado em R$ 38 bilhões, o trem bala custará quatro vezes mais que o aplicado pelo governo federal em saneamento, nos últimos 12 anos – três mandatos presidenciais.
“Esses valores refletem as políticas públicas e as prioridades dos governos para o país. E observamos que as políticas para a saúde estão muito atrasadas, apesar de o discurso oficial considerá-las prioridades”, afirmou Gil Castello Branco.
Orçamento
Essa realidade repete-se na proposta orçamentária para 2014, encaminhada ao Congresso Nacional. A previsão de investimentos públicos para a saúde está sem sexto lugar, com R$ 5,3 bilhões. Os três primeiros dessa lista são Transportes (R$ 15,3 bilhões), Educação (R$ 12,3 bi) e Ministério da Defesa (R$ 8,4 bi). Transporte e Defesa são setores intimamente vinculados aos compromissos de governo para receber o Mundial de Futebol.