Futebol feminino: a pátria sem chuteiras
José Cruz
Modalidade que distribui medalhas em jogos olímpicos, o futebol feminino é “prima miserável” da milionária CBF.
A Seleção Brasileira foi prata, em Atenas, mas, hoje, a situação é tão grave que quando alguém se interessa jogar com as gurias o convite precisa vir com passagem aérea para toda delegação, hospedagem e alimentação garantidas.
“Não temos dinheiro porque a Seleção feminina não é rentável”, resumiu Ronaldo dos Santos, supervisor da CBF, na audiência pública desta quarta-feira, na Comissão de Turismo e Desporto (CTD) da Câmara dos Deputados.
Anualmente, a CBF aplica R$ 4 milhões no futebol feminino. Já para a Série D do Campeonato Brasileiro são R$ 40 milhões.
Pra salvar a “pátria feminina de chuteiras” o secretário de Futebol do Ministério do Esporte, Toninho Nascimento, entrou em campo.
Conseguiu patrocínio da Caixa, R$ 10 milhões, para um campeonato com 20 times, transmissão de jogos pela Fox e acertou com a prefeitura de Foz de Iguaçu a construção de um Centro de Excelência. O terreno é da usina de Itaipu e o dinheiro virá da Lei de Incentivo ao Esporte.
E agora, vai?
Não se sabe. O ex-técnico da Seleção Brasileira, René Simões, que participou da audiência pública, disse que esse assunto não é para o governo se meter.
“O esporte de alto rendimento não deveria estar sendo discutido nesta mesa, mas nas confederações”, afirmou.
“O ponto central é a CBF. Sem tocarmos nesse ponto não vamos a lugar algum”, disse René. “Da forma como a CBF trata o futebol feminino temo uma vergonha nos Jogos Olímpicos do Rio!”…
A CBF não quer saber mesmo do assunto e nem aceita dinheiro do governo para a categoria feminina. Por isso, uma liga, por exemplo, prevista na Lei Pelé, poderá surgir para livrar o futebol feminino da CBF e dar novos rumos à modalidade.
Enquanto isso…
O sonho de Toninho Nascimento é repatriar jogadoras famosas para fortalecer a competição interna e até formar uma seleção permanente.
O gaúcho Marcos Planela, que trabalha há 20 anos com a modalidade, quer “amparo de leis para a modalidade não ficar dependente dos benefícios individuais – como o da Caixa – e temporários”. É a tese do Estado se envolvendo cada vez mais com a atividade particular.
A fragilidade do futebol feminino reflete a falta de políticas públicas para o esporte. Repete as falhas do basquete, do hadebol, do atletismo, natação etc. Não há projetos a partir da escola para incentivar a formação de atletas. E muito menos para que se torne uma prática de puro lazer.
É aí que o Ministério do Esporte aproveita a brecha. Sem planos integrados trata cada modalidade conforme a ocasião, num diálogo de cofre aberto. Este filme dura 10 anos… E no caso do futebol feminino, com forte apelo popular, pode até faltar resultados de longo prazo, mas as boas ações ministeriais poderão render votos ao partido já na próxima eleição.