Calendário do futebol: enfim, o atleta entra em campo
José Cruz
Na próxima segunda-feira, atletas que lideram o diálogo com a CBF sobre o calendário do futebol participarão de uma audiência pública na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados.
Contribuindo para o debate, publico artigo de Lindberg Júnior, servidor público e apaixonado por futebol que estuda o assunto há muito tempo.
Em 2005 acompanhei a apresentação de Lindberg na sua conclusão de mestrado, na Universidade de Brasília, quando ele já tratava desse tema, que, agora, oito anos depois, domina o debate entre cartolas e atletas. Confiram.
Por Lindberg Júnior
O Bom Senso F.C. é um movimento composto por mais de 300 jogadores profissionais dos principais clubes do futebol brasileiro e quer mudanças urgentes no calendário de 2014, divulgado recentemente pela CBF. Fazem parte desse movimento nomes de peso como os de Rogério Ceni (São Paulo), Paulo André (Corinthians), Alex (Coritiba), Dida (Grêmio), Juninho Pernambucano (Vasco), entre outros, o que demonstra a importância da iniciativa.
Para o bem do espetáculo e do fortalecimento do futebol brasileiro, os atletas querem reduzir o número de jogos na temporada, respeitar o período de férias e ter tempo para uma pré-temporada adequada. Além disso – mais importante de tudo – reivindicam participação nos conselhos técnicos das competições e entidades.
A partir de 2003, o calendário do futebol brasileiro avançou bastante, especialmente após a adoção do campeonato brasileiro em pontos corridos e a redução na duração dos estaduais. Naquela ocasião, CBF, clubes, federações, TV Globo e o Ministério do Esporte participaram dessas decisões.
Os atletas ficaram de fora da discussão naquele momento. Por isso, aspectos fundamentais para a melhoria da qualidade do futebol, como a redução do número de jogos, férias e pré-temporada ficaram em segundo plano. Até que os atletas deram o grito – e nasceu o Bom Senso F.C.
O diagnóstico está feito no dossiê elaborado pelo movimento. A solução é que é complexa.
Sabemos que o debate sobre o calendário é um “estica e puxa” de interesses, uma verdadeira “batalha” por datas, envolvendo CBF, clubes, federações, TV, patrocinadores e, a partir de agora, os atletas.
Se o calendário atendesse aos interesses de todos esses atores, incluindo a recente proposta do Bom Senso F.C., as datas seriam assim distribuídas: Brasileiro (38), Estaduais (21), Copa do Brasil (20), Sul-Americana (10), Libertadores (17), Datas FIFA (7), Copa do Mundo (10), Superclássico das Américas (2), Mundial de Clubes (4), Férias (9) e Pré-Temporada (8). Ao todo, são 146 datas.
Só que o ano tem 52 fins e 52 meios de semana, um total de 104 datas disponíveis. A CBF resolveu esse problema para 2014 usando datas simultâneas: Sul-Americana com Copa do Brasil; Datas FIFA e Superclássico das Américas com Brasileiro e estaduais; e, pior de tudo, substituindo a pré-temporada pelos estaduais. Além do que, durante a Copa do Mundo, o futebol brasileiro vai ficar sem atividade. Dessa forma, espremeu o calendário.
E aí vem a complexidade dessa discussão. Onde cortar datas? Reduzir os estaduais? O Brasileiro? Iniciar a temporada em julho para que as férias coincidam com o período de Copa do Mundo? Negociar a Libertadores e a Sul-Americana com a Conmebol? Ou deixar tudo como está? Como realizar a transição do calendário atual para o próximo?
A solução tem que vir pela discussão entre todos esses interessados. De preferência, num fórum aberto, formal, transparente. Até para mostrar que decisões importantes no futebol brasileiro não podem continuar ser tomadas apenas nos bastidores e sem a presença do principal ator do espetáculo: os atletas.
Lindberg Júnior é servidor público e autor da dissertação de mestrado “O calendário do futebol brasileiro: um caso de processo decisório interorganizacional”, defendida em 2005, na Universidade de Brasília.