A cartada extrema de Dilma
José Cruz
A indicação do general Fernando Azevedo e Silva para presidir o consórcio da Autoridade Pública Olímpica é, também, resposta do governo ao fracassado sistema político-esportivo, há dez anos nas mãos do PCdoB.
O resultado é desastroso. Há acúmulos de processos revelando corrupção em vários projetos. Há omissão na fiscalização do dinheiro ali liberado, incentivando desmandos por parte dos executores. Há suspeitas de fraudes, ainda sob investigação, que favoreceram espertos de ocasião, manchando a sigla do PCdoB e entristecendo históricos do partido, como o próprio ministro Aldo Rebelo.
E é esse flagelo da gestão política-esportiva e o desastre nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro que colocam em risco eventos olímpicos e paraolímpicos, principalmente.
Dilma deve ter sido alertada de que a três anos dos Jogos não temos orçamento nem matriz de responsabilidade. Não se sabe quanto será gasto nem o que compete a quem. Pior: temos um presidente olímpico, Carlos Nuzman, que por vaidade não divide cargos, acumulando responsabilidades e provocando desconfianças maiores.
Pode parecer estranho que, vítima do sistema militar, que no passado lhe impôs a dor e a humilhação, Dilma se socorra, agora, dessa estrutura institucional, e entregue a um general a responsabilidade de tentar promover o entendimento entre os parceiros políticos, os governos do Estado do Rio de Janeiro e da Prefeitura do Rio. A diferença é que o general e a instituição militar de hoje estão integrados à ordem democrática do país, o que sugere confiança do Palácio do Planalto.
Lamentavelmente, as instituições desportivas estão falidas, desarticuladas, dependentes do dinheiro público e sem exibir resultados animadores.
Não há entrosamento institucional, porque o próprio Comitê Olímpico Brasileiro não aproximou as confederações, federações e clubes. Isolou-se na elite dos dirigentes poderosos. E o Ministério do Esporte falhou em sua missão.
Diante desse quadro, a chegada do general é evidente intervenção do Palácio do Planalto nas instituições esportivas, ministerial, inclusive. Porque, a realização dos eventos foi assumido pelo governo federal. Está claro: Dilma quer honrar esse compromisso e evitar prejuízos ao governo, ao país e à sua própria imagem.