A melancolia da arquibancada vazia
José Cruz
Por Bernardo Scartezini
No Correio Braziliense – sábado, 2/2/2013
Clarence Seedorf joga o fino da bola e me parece ser um cara bacana. Mas ele chegou ao Rio não faz muito e cometeu uma gafe danada. Dia desses, num tom desapontado, comentou sobre as arquibancadas de cimento para as quais tem se apresentado…
“Algo me surpreendeu no Brasil: o fato de poucas pessoas irem aos estádios. Há pouco público. Não faz parte da cultura. Gostaria de ter mais gente nos estádios”.
Alguém, por favor, explique para Seedorf que essa não é uma questão cultural, não. Alguém, por favor, mostre ao amigo holandês as fotos de estádios abarrotados nos anos 1990, 1980, 1970…
Sou jovenzito, mas cheguei a ver tal cousa. Se os estádios, numa cidade como o Rio, não estão cheios para toda e qualquer rodada é por incompetência dos dirigentes. Que marcam Flamengo x Vasco, quarta rodada da Guanabara-2013, para 19h30 de quinta-feira no Engenhão. Apenas 12.423 no “clássico das multidões”. E foi um jogão…
O ingresso para um clássico carioca bate em R$ 60 para os otários que não têm carteirinha (eu). E o Fluminense nem sequer tem jogado com o time completo, sabe?
Estádios vazios podem ser entendidos como “questão cultural” em regiões sem clubes de tradição. Seedorf há de convir que não é o caso do Rio. Seria o caso, por exemplo, de Brasília. Me alivia saber que logo teremos um baita estádio para mudar definitivamente essa cultura. Opa.
Mas Seedorf fez valer os cobres de quem saiu de casa no domingo (7.367 pagantes) para ir ao Engenhão. O camarada se levantou do banco bem em tempo de empatar a parada contra o Flu, ao meter uma bola absurda para Bolívar.
Está claro desde o Brasileiro-2012.De lá para cá, a diretoria alvinegra fez um troço admirável: manteve a base do time. Segurou os jovens valores. Gente como o beque Dória, que foi cortejado pela Juventus de Turim, e o atacante Bruno Mendes, que se viu metido num rolo com o Guarani de Campinas.
Esses guris podem compor, ao lado de veteranos como Seedorf e Bolívar, Renato e Marcelo Mattos, um time técnico e versátil.
Mas a torcida abre o ano em pé de guerra com Oswaldo de Oliveira. O clima ficou pesado após o bate-boca público entre o treinador e seu desafeto Loco Abreu.
Entendo o trauma de qualquer torcedor que tenha sido exposto a Geninho e Ney Franco e Estevam Soares e Caio Júnior e Joel Santana, numa sequência assustadora. Mas vamos olhar ao redor, entre os tais professores, tem alguém muito melhor que Oswaldo?
Cuca vai bem no Atlético-MG. Então…
O campeonato estadual é o momento de engrenar o time. Não de acirrar os ânimos. Os cartolas do Botafogo – e dos demais clubes – poderiam ensaiar um gesto cordial: baixar o preço dos ingressos.
Seu estádio ficaria mais cheio. Sua torcida, mais serena. Talvez Oswaldo até ganhasse um crédito. E Seedorf poderia começar a nos conhecer melhor.