O esporte dos espertos, do colapso ao lucro
José Cruz
Lamentavelmente, a crítica de Roger Federer, verdadeira e vexatória, reforçará a tese do governador Geraldo Alckmin, de que o Ibirapuera deve, sim, ser privatizado, pois o Estado já se mostrou incompetente para sua manutenção. Isso é inacreditável num país olímpico…
No milionário evento de tênis em São Paulo, com Roger Federer brilhando simpaticamente, os ingressos variaram de R$ 500,00 a R$ 900,00.
É isso que o presidente da Confederação de Tênis, Jorge Rosa, chama de “popularização do esporte”, onde entra, inclusive, patrocínio dos Correios. Dinheiro público!
A primeira vergonha imposta ao país olímpico veio dos organizadores à falta de estrutura do ginásio do Ibirapuera para receber evento desse porte, com calor insuportável, sem conforto e espaço apertado para quem trabalhava.
Pior:
E do tenista maior, Roger Federer, veio a principal crítica – curta, mas vergonhosa:
“É velho e falta espaço”, resumiu o suíço, referindo-se ao histórico ginásio onde reinou.
A reportagem sobre o assunto, no UOL, é do repórter Rafael Krieger.
Vexame internacional
Isso não é novidade no Brasil.
Outro vexame internacional ocorreu este ano no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília, durante o Mundial de Patinação Artística.
As goteiras despejavam água na pista de competição, que reunia a elite de atletas de 30 países. As imagens dessa irresponsabilidade do governo local ganharam o mundo.
De Brasília para as praças do Pan 2007, que também abandonadas por bom tempo. Faltaram políticas de governos e calendário atrativo de competições. E o tal legado saiu pela culatra…
Realidade
Agora, o episódio do Ginásio do Ibirapuera é mais um capítulo deste país olímpico de projetos emergenciais, tipo “faz agora que a gente derruba depois”.
O governo é bonzinho. E paga …
Lamentavelmente, a crítica de Roger Federer, verdadeira e vexatória, reforçará a tese do governador Geraldo Alckmin, de que o Ibirapuera deve, sim, ser privatizado, pois o Estado já se mostrou incompetente para sua manutenção. Isso é inacreditável num país olímpico…
O mesmo ocorre com alguns dos principais estádios para a Copa, como o de Brasília.
Primeiro, o dinheiro público financia a obra integral, prejudicando projetos de interesses sociais.
Depois, a iniciativa privada entrará em campo. E terá lucro, claro.
O governo, como disse, é bonzinho…
Outro recurso é o do construir errado para demolir e fazer outro velódromo, por exemplo. O prejuízo público refletetirá, dez vezes mais, no lucro crescente dos espertos.
Afinal, não são as empreiteiras as principais financiadoras de campanhas eleitorais? O ciclo da torneira pública passa por aí.
E ninguém responde por essas barbaridades e nem o governo federal se mexe.
Atletas? Bah! Deixa pra lá. Federer, lá de fora, fala pelos nossos…
Que vergonha!
Quem sabe, tivéssemos um Ministério do Esporte, um Conselho Nacional do Esporte, uma Comissão de Esporte na Câmara, outra no Senado…
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