Romário quer CPIs para a CBF e Comitê Olímpico. Ótima proposta, mas é o melhor momento?
José Cruz
O deputado Romário publicou nas redes sociais:
“A CBF e o COB são as duas entidades mais desonestas do Brasil”
Partindo de um campeão do mundo e agora deputado federal com eficiente atuação parlamentar a denúncia tem peso e precisa ser considerada.
Considerada, incialmente, pelos órgãos de fiscalização do dinheiro público, a partir do Ministério do Esporte, Tribunal de Contas, Controladoria Geral da União (CGU) e da Polícia Federal, se preciso.
Há mais de uma década escrevo que o esporte tornou um negócio para poucos ganharem muito dinheiro. Dinheiro público, como demonstram auditorias do TCU e da CGU.
Por que tantos cartolas lutam para se perpetuar em seus cargos, fugindo à tradição da eleição democrática que conquistamos depois de anos de ditadura? Lutam, inclusive, alterando o estatuto, como fez Jorge Rosa da Confederação de Tênis. Esperto esse rapaz que chegou ao poder iludindo a muitos – eu inclusive – pelo discurso da moralidade e transparência… Quem diria, Jorge Rosa!
Exemplos
Entre 2011 e 2012 a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) levantou R$ 42 milhões de verbas da Lei de Incentivo, patrocínios dos Correios, convênios com o Ministério do Esporte e Lei Piva.
E que resultados internacionais exibe? Onde está a evolução? Mas Coaracy continuará até 2017… mandando no setor. Três décadas de ditadura.
Pior:
Veja, caro Leitor, o que escreveu o Peter Siensem, presidente do Fluminense, que desenvolve 12 modalidades olímpicas, entre elas a natação, o polo aquático, saltos e o nado sincronizado:
“Não recebemos nada (de dinheiro público, via CBDA). Hoje, fora a natação e o polo, os outros esportes aquáticos dão consideráveis prejuízos. Estamos avaliando o que fazer com essa situação em relação ao nado sincronizado e salto ornamental”.
Já o vice-presidente do Flu escreveu o seguinte, respondendo minhas indagações:
O Presidente Peter resumiu em poucas palavras a situação real e atual de nosso clube e aproveito para dizer que não é diferente da grande maioria, porque simplesmente os recursos não chegam aos formadores de atletas, ou seja, os clubes.
Entenderam? o dinheiro que o presidente da CBDA, Coaracy Nunes, capta junto a governo não chega aos atletas através dos clubes. Então, onde é aplicado? é o que temos questionado há anos!!! o dinheiro não chega no atleta, na base, na iniciação. Está concentrado no atleta pronto, que já tem patrocínios e bolsa atleta valorizadíssima.
É isso que precisa ser esclarecido, como sugere o deputado Romário.
Não adianta dizer que as prestações de contas são aprovadas. Como estamos falando de verba pública, o público contribuinte precisa saber sobre tais gastos! Isso é elementar numa transparência, justamente o que falta ao nosso esporte em geral.
CPI
Mas este final de ano legislativo não é o melhor momento para mobilizar Câmara e Senado por uma CPI, como sugere o deputado.
Não há tempo para que a proposta tenha sucesso em curto período. Até porque, muito parlamentar esperto sabe como atrasar a tramitação de uma proposta dessas.
Reserve fôlego, deputado Romário. Elabore um esquema eficiente para o início de 2013, quando, inclusive, teremos novos presidentes nas Mesas da Câmara e do Senado e os rumos da tramitação poderão ser mais eficientes.
Além disso, poderá mobilizar a opinião pública, atletas, técnicos etc para que sua proposta ganhe apoio popular.
E, instaladas essas CPIs, que se venham as quebras de sigilos contábil, fiscal e bancário.
A presidente Dilma sabe o que está se passando em seu governo na área do esporte? Tem noção do rombo que herdou do governo passado, quando muitos assaltaram o Ministério do Esporte, nas barbas do então ministro Orlando Silva?
Com o devido respeito, Presidente Dilma, peça à CGU um balanço das falcatruas identificadas nestes nove anos de Ministério do Esporte e dos recursos aplicados no esporte em geral. Com certeza a Senhora vai se surpreender. E, quem sabe, até apoie as CPIs. Só assim se poderá ter um verdadeiro perfil do uso da verba pública no setor.