Pausa rápida no desporto
José Cruz
Com licença, desportistas, mas preciso abrir espaço para este comentário.
O jornalista Audálio Dantas lança hoje em Brasília seu livro “As duas guerras de Vlado Herzog”. Aos jovens que estão ingressando na profissão esta memória é indispensável.
Audálio era presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, em 1975, quando Vladimir Herzog foi assassinado pelo regime militar da época.
Conheci Audálio em palestras e debates e na convivência sindical, em suas seguidas idas ao Rio Grande do Sul, onde eu morava.
Mais tarde nos encontramos em Brasília; jornalista, conversei muito com o então deputado federal Audálio Dantas. Mas ele retornou logo à sua rotina de jornalista. Ainda bem.
Peço licença ao companheiro Juca Kfouri para transcrever o texto de sua autoria, no livro de Audálio, que resume o perfil de um dos mais íntegros jornalistas que conheci e que tenho como exemplo de profissional.
Audálio Dantas por Juca Kfouri
“Sim, nós tínhamos medo.
Vladimir Herzog estava morto, assassinado covardemente nos porões da ditadura militar.
Diziam que o meu nome estava numa lista e que viriam me buscar.
Só em dois lugares, o entanto, eu me sentia seguro.
Só em dois lugares eu sentia medo com segurança. Na Cúria Metropolitana, casa de Dom Paulo Evaristo, cardeal Arns de São Paulo, e na Rua Rego Freitas, o Sinicato dos Jornalistas de São Paulo, casa de Audálio Dantas. Talvez ele nem saiba, mas para muitos de nós ele era sinônimo de segurança, de proteção.
E vi um homem preocupado, mas sereno, fustigado, mas firme, tenso, mas equilibrado, corajoso sem ser temerário, sensato sem ser dono da verdade, incapaz de uma demagogia, um blefe..
Estamos acostumados, com justa razão, a lembrar do ato ecumênico da Catedral da Sé como um ato que mudou a História do Brasil, e por isso reverenciamos os três pastores que o conduziram, o cardeal Dom Paulo Arns, o rabino Henry Sobel e o reverendo James Wright.
Frequentemente, no entanto, porque somos o país que somos, propensos a certos esquecimentos, deixamos de lembrar que se não fose pela atitude de Audálio Dantas naqueles dias sombrios, não ter~iamos o Ato da Sé. Audâlio Dantas costuma dizer que seu melhor trabalho foi o papel que desempenhou no Caso Herzog. De fato, porque, então, ele foi testemunha e protagonista, escreveu a História e nela foi inscrito.”
(Trecho do discurso de Juca Kfouri na entrega do título de Cidadão Paulistano ao jornalista Audálio Dantas, na noite de 9 de junho de 2008, na Câmara Municipal de São Paulo).