Carlos Nuzman não comparece ao Senado para debater sobre o mandato dos cartolas
José Cruz
“O longo prazo dos dirigentes no mesmo cargo provoca o desprezo às bases. Cria o sentimento de que o dirigente é o dono, o proprietário do que dirige, acostuma-se aos erros e isso dificulta a luta contra a corrupção. Dirigente é uma função e não uma propriedade.” (Senador Cristovam Buarque)
Pela segunda vez o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Nuzman, faltou à uma audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Desporto do Senado Federal. Estava no exterior, avisou. Poderia ter enviado representante, pois no COB tem gente qualificada para tal.
Na reunião anterior, Nuzman fez rápido pronunciamento e se mandou, fugindo do debate com o advogado Alberto Murray Neto. Ficou mal na fita e continua assim.
Desta vez o assunto era sobre projeto de lei que limita o mandato dos dirigentes esportivos. Dividi a mesa com Ana Moser, presidente da ONG Atletas pela Cidadania, e o presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro, Andrew Parsons.
Na plateia, participação do deputado Romário, coeso com o projeto, do ex-craque Raí, Carmem de Oliveira e Hortência. O deputado Popó, ex-desportista, é o principal ausente dos debates sobre os rumos deste setor. Nunca o vi nem na Comissão de Esporte da Câmara.
Aula
Nuzmam perdeu uma exemplar aula de democracia do senador Cristovan, que chegou de viagem e saiu direto do aeroporto para o plenário da Comissão de Educação, Cultura e Desporto do Senado. Disse o seguinte:
“Ficar muito tempo no mesmo cargo cria vícios. Favorece a mistura entre as questões pessoais e as da entidade. O dirigente perde a noção do novo, da modernidade e, por isso, passa a cometer mais erros. Precisamos provocar a renovação e dar chance aos jovens”.
Autor de um projeto de lei que limita o mandato de todos os dirigentes, inclusive os sindicais e políticos – vereadores, deputados estaduais, federais e senadores – Cristovam Buarque disse mais:
“O longo prazo dos dirigentes no mesmo cargo provoca o desprezo às bases. Cria o sentimento de que o dirigente é o dono, o proprietário do que dirige, acostuma-se aos erros e isso dificulta a luta contra a corrupção. Dirigente é uma função e não uma propriedade.”
Exemplo
Quem deu exemplo de gestão moderna foi o presidente do Comitê Paraolímpica Brasileiro, Andrew Parsons, que alterou o estatuto da entidade para incentivar a renovação.
E criticou a falta de definições sobre as competências das escolas, municípios, Estados, União, federações, clubes etc no contexto da prática esportiva:
“Cobra-se dos dirigentes, mas não se define quem é quem neste processo”.
De fato, não é nem uma desordem no setor, porque não temos nada neste sentido.
É omissão mesmo a partir da falta de iniciativa do Ministério do Esporte.
A reunião, apesar de concorrer com o principal assunto do dia, a CPI do Cachoeira, foi proveitosa e deverá render.
O grupo Atletas pela Cidadania entrou em definitivo no debate para ajudar a dar rumos ao esporte no Brasil a partir da criação de uma “agenda de debates”.
E encontrou na Comissão de Educação, Cultura e Desporto do Senado uma parceira para apoiar a discussão.
O Legislativo é o local ideal para centralizar esta discussão e ali receber a pressão — esse é o termo — de atletas, ex-atletas, dirigentes, técnicos, professores de educação física, enfim. Se não for assim não se muda nada.
Nada mais oportuno porque, apesar de sermos sede de megaeventos e muitos estarem de olho apenas na renda dessas promoções, ainda somo amadores na ordenação do nosso esporte.
Valorizamos o futebol inclusie na lei maior, a Lei Pelé. Desperdiçando oportunidades e espaços e ignoramos o potencial de 33 milhões de crianças nas escolas do país.
Aí, na escola, o esporte é desprezado, principalmente como apoio pedagógico aos trabalhos curriculares.
Pode ser que a ''agenda para o esporte'' consiga unir os ministérios afins – Educação e Saúde entre eles – para que se tenha uma política integrada e não apenas projetos e programas de partido político.