Ainda sobre os longos mandatos dos cartolas
José Cruz
Recebi telefona de Coaracy Nunes, presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos. Ele protestou contra a dureza de minhas críticas à sua gestão.
Tais críticas estão em meu blog. Se alguém explorar o texto acrescentando adjetivos como “senil'' ou ''decadente”,por exemplo, o fazem indevidamente e tem meu total repúdio. Não uso tais expressões agressivas.
Respeitosamente, ritero minha contrariedade à perpetuação dos dirigentes esportivos no comando das confederações com os seguintes argumentos:
Mesmo apoiada por dirigentes estaduais, esse continuísmo se contrapõe ao princípio democrático da renovação de diretorias, como ocorre nos cargos eletivos em geral, a partir da Presidência da República.
Com as verbas públicas destinadas às confederações seus presidentes têm bons argumentos para convencer os dirigentes estaduais sobre o rumo de seus votos.
As confederações, em geral, contribuem com as federações nas suas despesas de administração, telefone, secretárias etc. Isso aproxima o dirigente maior dos presidentes estaduais. E cria sentimento do ''agradecimento'' e, em decorrência, a perpetuação ocorre.
Temos um caso ridículo, ousado até, de afronta e atentado à democracia, que é a Confederação de Tênis, cujo presidente, Jorge Rosa, depois de atualizar o estatuto o modificou, permitindo a tripla reeleição. Sem qualquer reação do Governo federal ou dos Correios, patrocinador do tênis. Tornam-se cúmplicas do abusado.
Era assim que governos estaduais também se sustentavam no poder à época da ditadura.
Próximos do Palácio do Planalto e dos generais, políticos de ocasião eram nomeados governadores e senadores ''biônicos''. Deputados eram cassados e assim o governo formava sua base de “apoio”.
O próprio presidente do Senado, José Sarney, foi beneficiário desse sistema ao ser nomeado governador do Maranhão, em 1966.
É triste tal comparação, porque o esporte, historicamente instrumento de apoio à educação, no Brasil não se presta como exemplo para identificar práticas democráticas.
Com certeza Coaracy Nunes poderia estar em cargo de destaque no Comitê Organizador dos Jogos 2016. Seu conhecimento e intercâmbio internacionais não são desprezíveis e devem ser aproveitados em eventos maiores.
Porém, há mais de duas décadas no comando da CBDA e buscand novo mandato, sua ficha de serviços ao esporte fica enfraquecida.