O apito dos descontentes
José Cruz
Depois do episódio Edílson Pereira de Carvalho, no infame Brasileiro-2005, ficou difícil defender a moral da arbitragem nacional. Esses senhores seriam apenas despreparados? Ou seriam realmente mal intencionados?
Por Bernardo Scartezini
Nunca antes na história do Brasileiro-2012 a liderança do Fluminense esteve tão larga – e nunca foi tão contestada. Passamos a semana discutindo arbitragem, em vez de discutir futebol.
Se o fluminense não levar o caneco na bola, levará no apito. É o que acusam muitos e desalentados torcedores adversários.
A choradeira acontece porque o futebol brasileiro tem buracos negros que arrastam tudo ao redor: jogadores e dirigentes, campanhas inteiras, méritos e reputações.
Um buraco negro é a CBF: privatizaram nossa Seleção e nosso futebol. Outro buraco negro é o calendário: 12 meses está pouco para os cartolas.
Outro buraco negro é a arbitragem: erros se acumulam a cada rodada num crescendo de insatisfação geral e paranoia coletiva.
Depois do episódio Edílson Pereira de Carvalho, no infame Brasileiro-2005, ficou difícil defender a moral da arbitragem nacional. Esses senhores seriam apenas despreparados? Ou seriam realmente mal intencionados?
E assim a péssima arbitragem brasileira, claro, acaba sendo mais um perverso fruto dos desmandos da CBF. Como garantir o caráter de quem apita dentro de campo se não se pode garantir o caráter de quem paga seus salários?
Xingar a mãe do juiz é esporte nacional. Mas não vai dar para culpar os juízes, nem a mãe deles, se o Fluminense terminar campeão. Este time tem sobrado – turno e returno -, eis a verdade.
Fluminense e Grêmio realizaram, na quarta-feira, a melhor peleja deste certame. Os gremistas saíram na frente após construírem um cerco alucinante. Mas o Flu reagiu de imediato e virou o placar em apenas quatro minutinhos. Depois teve que ceder o empate a um adversário que insistia em atacar, mesmo contando com um homem a menos. Raras vezes o Flu foi tão acossado dentro do Rio de Janeiro. Mas…
Empates a esta altura só servem ao Fluminense. De tal forma que te digo: qualquer outro resultado amanhã, que não seja uma desmoralizante & desnorteante goleada do Atlético-MG, deixará o Fluminense matemática & emocionalmente com a parada liquidada.
Enquanto isso, na Polônia…
Mano Menzes parece ter encontrado o elemento que vinha buscando. Se Kaká se mantiver em boa forma física, ele até poderá não se tornar a liderança psicológica ainda tão necessária ao time – esse nunca foi mesmo o jeitão dele – , mas certamente ajudará um bocado com a pelota nos pés.
Com Kaká ao lado do garoto Oscar, ambos à frente de Paulinho e Ramires, a Seleção pode começar a depender menos e menos do talento individual do menino Neymar. O que seria uma boa para todos.
O bacana dessa história – e que me deixa especialmente otimista – é que hoje Kaká precisa da Seleção tanto quanto a Seleção precisa dele. Nem sempre essa equação foi assim equilibrada, em se tratando dos popstars do escrete pátrio.
Metido numa querela pessoal com José Mourinho e com futuro ainda incerto no Real Madrid, Kaká pode fazer da Seleção palco de sua redenção. Pode encenar ali o ato final de sua bela e vitoriosa carreira. O que, mais uma vez, seria uma boa para todos.
Bernardo Scartezini escreve aos sábados no SuperEsportes do Correio Braziliense