A tetraeleição de Nuzman e o cinismo olímpico
José Cruz
Em outubro, Carlos Arthur Nuzman será tetraleito presidente do COB.
Em 2016, ele completará 21 anos de poder. Cinco ciclos olímpicos. Outros presidentes de confederações fazem o mesmo.
Um deles, Jorge Rosa Lacerda, que assumiu a Confederação de Tênis com discurso “moralizador e democrático”, aprendeu a lição rapidinho. Em seguida, como discípulo de Nuzman, contrariou sua própria palavra, mudou o estatuto e já se reelegeu. Seguiu o exemplo que vem de cima.
Mas essa gente não se envergonha, mesmo com o estatuto do Comitê Olímpico Interncional permitindo apenas uma reeleição de seu presidente. Nem um rubor na face. Nada! Driblar o ato legal tornou-se rotina.
No Brasil, do salto do regime militar para a abertura política, já há vinte e tantos anos, a democracia ainda não chegou ao esporte. Nele, predomina a ditadura dos cartolas.
Idoneidade
A tetraeleição de Nuzman ocorrerá num momento em que a credibilidade do COB está seriamente fragilizada e comprometida:
– Roubo de informações dos computadores da organização dos Jogos de Londres;
– Demissão dos acusados, mas sem clareza oficial do episódio;
– Comprometimento internacional da imagem esportiva do Brasil;
– Gerenciamento de farta verba pública, mas sem resultados expressivos no pódio;
– Estatuto do COB impondo limitações para candidaturas à presidência;
– Superfaturamento nas obras do Pan 2007;
– Falta de planejamento para o aproveitamento das arenas esportivas;
– Acúmulo de poder com a presidência do Comitê Organizador Rio 2016;
– Diálogo limitado com os poderes da República;
– Presidente Dilma Rousseff com “um pé atrás” e de “saco cheio” de Nuzman.
Cinismo olímpico
Avaliando a importância do esporte sob o aspecto humano e educacional, como escreveu Katia Rubio, em excelente artigo, ontem, observa-se que o Comitê Olímpico Brasileiro está na contramão desses princípios históricos.
Os legados que inspiraram os Jogos desapareceram e, por aqui, se fortalece a tese de que uma coisa são os Jogos; outra os negócios.
É nesse panorama, de perfil antipático para uma entidade que deveria ter a adesão e apoio popular, por natureza, que Nuzman vai para a eleição isolada e ofuscada pela falta de transparência na verba pública que administra.
São gestões em que se gastam rios de dinheiro – público – “favorecendo limitado número de dirigentes, que se perpetuam no poder e continuam, cinicamente, a falar sobre o ideal olímpico e o papel do esporte na educação e na integração dos povos”, escreveu Andrew Jennings.