A ousadia de Aldo e a realidade do Ministério do Esporte
José Cruz
Há necessidade de mudanças urgentes na estrutura das confederações. Democratização e profissionalismo são as palavras-chave. É preciso limitar o tempo de mandato dos dirigentes a três ou quatro anos, com direito a apenas uma reeleição.
A manifestação é do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, em entrevista à Veja.
Enfim, aí está um ministro que ousou enfrentar a poderosíssima estrutura olímpica nacional liderada por Carlos Nuzman e afirmar, olho no olho, que acabou a perpetuação dos cartolas no poder.
Aldo já havia dito isso a Juca Kfouri, em recente programa na ESPN.
“A alternância das direções esportivas não é mais uma discussão, mas uma decisão”.
Quem sustenta o sistema esportivo é o governo: R$ 6 bilhões para o alto rendimento no último ciclo olímpico. Portanto, ele pode – e deve – impor as regras. Cartola esperto sairá do jogo. É o que esperamos…
Dúvida
Mas, com o devido respeito, Ministro, da mesma forma que o Senhor cobra “eficiência e profissionalismo das confederações”, o Ministério do Esporte é profissional e eficiente?
Tenho dúvidas.
A estrutura governamental é historicamente intrincada, burocrática, difícil, política, protetora e corrupta.
O Senhor herdou um Ministério que serve também, aos interesses de seu partido, o PCdoB. Aí fica difícil impor profissionalismo de ponta a ponta, convenhamos!
O suspeito esquema de desvio de verbas ali verificado nos últimos anos – e que coube ao Senhor recuperar a credibilidade ministerial – é um problema gravíssimo que ainda não foi combatido em sua extensão.
O Ministério do Esporte não tem estrutura nem pessoal para fiscalizar os recursos financeiros que libera, a própria Bolsa Atleta e se há plena execução dos projetos da Lei de Incentivo. Investigo casos de arrepiar… E isso sugere, também, falta de ''eficiência e profissionalismo''.
Com certeza, essa realidade – que é do Governo Federal, como um todo, há decadas – não invalida sua corajosa e ousada decisão de impor normas para quem desejar receber recursos públicos.
Mas o Ministério do Esporte precisa se tornar, também, eficiente e profissional a ponto de poder elaborar, por exemplo, seus próprios projetos sem depender de dispendiosas consultorias externas.
Repercussões
Este assunto vai render. Se as confederações ''não dançarem conforme a música” ficarão sem recursos públicos. Mas, nesse caso, quem executará as ações de governo para colocar o Brasil no top 10 dos países olímpicos, em 2016?
Vem queda de braço por aí e isso demonstra como estamos atrasados em termos de gestão do esporte, pública ou privada.
Temos metas olímpicas, mas ainda dependemos de viciados gestores do século passado …
Em outros casos, nem o Ministério do Esporte sabe como usar o dinheiro disponível. Sobre isso farei outro comentário.
Até.