O que R$ 348 mil significam para o esporte?
José Cruz
Município de 12 mil habitantes do interior de Minas recebe a metade do dinheiro que Ministério do Esporte doou à UNE e constroi clube para comunidade
Nos últimos 12 anos, acompanho, como repórter e dentro do possível, a origem do dinheiro público para o esporte e sua aplicação. E bato na tecla da sobra de recursos – humanos e financeiros – e falta de uma política pública para o setor.
Foram esses, em resumo, os temas que abordei nas duas recentes palestras nos cursos de Educação Física e Jornalismo do Centro Universitário Sul de Minas (Unis), na acolhedora Varginha, convidado também pelos amigos do Jornal Podium.
Bons resultados
Por isso, surpreendo-me quando encontro projetos bem-sucedidos. E não posso deixar de divulgá-los. Nem tanto elogiar, porque ser gestor sério do bem público é obrigação de todo político.
Mas é preciso reconhecer que, Brasil afora, há projetos bem executados, e isso nos faz acreditar ser possível ter um país dirigido com ética, sem roubos ou trapaças.
Exemplo
Na recente visita a Varginha, visitei ali do lado Monsenhor Paulo, com pouco mais de 12 mil habitantes.Foi nessa cidadezinha que conversei com o prefeito Pedro Pagani. Ele passeou comigo pela cidade como a exibir o balanço de sua gestão, que chega ao final em dezembro.
E por não ser possível se candidatar à reeleição, fico à vontade para revelar que conheci um político que realiza. Portanto, o que escrevo não tem perfil de propaganda fora de época, mas observação de um anônimo cidadão de Monsenhor Paulo.
Poderão argumentar que a cidade é pequena e, por isso torna-se mais fácil a administração. Não importa o tamanho do município, mas a seriedade da gestão do bem público, fazendo retornar a população, em serviços, os impostos pagos.
Porém, o que me chamou atenção nessa visita foi o “clube” que o prefeito construiu na cidade. Em área privilegiada e com apenas R$ 348.715,00 o espaço ganhou academia ao ar livre, campo de futebol society, duas quadra de tênis (ainda em construção), piscina, ginásio, pistas para caminhada e uma para a prática de skate, enfim.
Detalhe
A parcela maior para esses investimentos, R$ 243.750,00, veio do Ministério do Esporte. Exatamente. O restante foi participação da Prefeitura e empresas da comunidade. Eu, que tanto denuncio desmandos em projetos dessa pasta, posso, enfim, garantir que conheci um projeto público bem-sucedido. E devem ter tantos outros, Brasil, afora. A cidade não tem outro espaço para lazer, cinema, shopping, nada! Logo, o clube é um local para a população se encontrar e praticar sua atividade física, para a garotada disputar suas competições que são coordenadas pela Secretaria de Esportes.
Contraste
O dinheiro que o Ministério do Esporte destinou a esse município mineiro é praticamente a metade do que enviou para a União Nacional do Estudantes “realizar” os Jogos de Verão, no ano passado. O evento carioca, como se sabe, foi um artifício para aplicar o recurso em outros gastos, como aqui denunciei.
Faço esse registro de Monsenhor Paulo com duplo objetivo: demonstrar o contraste entre a boa destinação e o desperdício do bem público.
Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), de 2006, concluiu que para cada dólar que a administração pública investe em atividade física popular tem retorno de US$ 3,4. Isso volta em forma de melhora do rendimento das crianças na escola, na queda das reprovações escolares, melhoria na qualidade de vida e da saúde da população e, por isso, menor acesso aos serviços públicos de saúde. Isso não é teoria, é resultado efetivo de um estudo da ONU. A regra vale para o Brasil.