O peso da medalha e jogo da frustração olímpica
José Cruz
Depois de um início meteórico, o esporte olímpico brasileiro deu uma esfriada. E chegamos ao terceiro dia de competições com a sensação de que já vimos este filme.
Inicialmente, sugiro a leitura do artigo do psiquiatra Roberto Shinyashiki, que começa assim:
“A colheita de medalhas que o Brasil fez no primeiro dia dos Jogos Olímpicos de Londres pode criar um problema para os atletas: a obrigação de ter de subir ao pódio porque parece ser fácil essa façanha.”
E termina assim:
“Vamos comemorar as vitórias com muita paixão, mas sempre ter em mente que a realidade vai prevalecer.”
E qual é essa realidade?
Na minha opinião, a realidade é, também, da limitação de pódios. E foi o próprio presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Nuzman, que assim se manifestou, ao afirmar que nossos atletas deveriam repetir o desempenho de Pequim 2008: 15 medalhas.
Em decorrência, é nesse contexto que entra a pressão do próprio atleta sobre a necessidade de um bom resultado.
Tradicionalmente, temos poucos nomes favoritos ao pódio. A responsabilidade não se dilui entre 100 competidores, por exemplo. A exigência de pódio torna-se maior, mas concentrada em uma minoria. Exigência a partir do próprio atleta, do técnico, familiares, imprensa e torcedor em geral.
Por exemplo, com que nivel de pressão muito íntima Daniele Hypolito entrou na área de competição, depois de ver seu irmão, Diego, fora do evento devido uma queda?
Naquele momento, Daniele sabia que o primeiro resultado negativo de um tropeço olímpico – além da frustração da ausência do pódio – é a perda da Bolsa Atleta, benefício do governo federal que rende R$ 3.100,00 a cada um dos ginastas. Apoios financeiros e patrocínios outros desaparecem, pois a visibilidade do atleta, sem a valorizada medalha, cai repentinamente. É o lado oposto do momento da glória.
Uso este exemplo por ser o mais recente, mas não é único em nosso esporte.
É nesse contexto que o governo federal precisa agir, principalmente com os atletas em fim de carreira.
Depois de financiá-los por vários anos, com recursos de diferentes fontes – estatais, Lei de Incentivo, loterias etc – não é possível abandoná-los imediatamente ao resultado olímpico negativo.
Se o Estado assumiu o esporte de alto rendimento como compromisso oficial e nele investe expressivamente, não pode ignorar que o principal agente nesse contexto – o atleta – tem limitações fixadas por resultados e, principalmente, pelo tempo de competição.
Portanto, cuidar do patrimônio humano ao fim de carreira, orientando-o, inclusive, para atividades afins com a modalidade que praticou, é obrigação, para que não se tenha ex-ídolos social e moralmente frustrados.