Novidade olímpica: Nuzman não quer comprar medalhas…
José Cruz
O presidente do COB, Carlos Nuzman, minimizou o debate sobre investimentos públicos no esporte e a cobrança de medalhas.
“Não estamos comprando medalhas, e sim fazendo um trabalho sério”.
De fato. O desenvolvimento esportivo não se avalia apenas pelas conquistas de medalhas olímpicas.
Campeonatos mundiais, juvenis, escolares e universitários, classificação para a fase final dos eventos e competições internas tecnicamente fortes também são parâmetros do potencial de um país.
Memória
A manifestação de Nuzman é diferente da de 12 anos atrás.
Em 2000, nos Jogos de Sydney, quando não conquistamos medalha de ouro, ele afirmou, na coletiva final:
“Me deem recursos que transformo o Brasil num país olímpico”. Disse isso mais vezes ao longo da década.
E o dinheiro chegou. Principalmente a partir do governo Lula, que assumiu o esporte como questão de Estado. Porém, só na abertura do cofre, porque na gestão é um fracasso, mesmo tendo um ministério específico.
Como estamos?
Chegamos ao quarto dia dos Jogos de Londres e repetimos Jogos passados: dependência dos poucos nomes: Cielo, Scheidt, Murer, vôlei, futebol… Vamos ver se o atletismo ajuda.
Tivemos dinheiro nos últimos três ciclos olímpicos (mais de R$ 2 bilhões neste último período). Mas falta renovação à altura da competição.
O vôlei é exemplo neste trabalho. Se não conquistar medalha não quer dizer que a modalidade fracassou. Tem estrutura e saberá se recuperar. Tênis de mesa vai no mesmo caminho.
O judô seguiu a regra. Não ficamos dependentes do campeão Leandro Guilheiro. Numa delegação de 14 atletas duas medalhas já foram garantidas com jovens judocas. A pressão não ficou concentrada em poucos e “famosos” nomes.
Já na ginástica…
Antes de anunciar que o Brasil esportivo terá mais dinheiro para ganhar mais medalhas nos Jogos Rio 2016, o ministro Aldo Rebelo precisa ter estrutura técnica em seu gabinete para, com segurança, dar direcionamento à grana e, aí sim, cobrar resultados.
Precisa ter um programa de Governo e não de ministério, como ocorre, porque, cada ministro que lá aporta (e já foram três) dá novo direcionamento ao esporte. Não temos planejamento integrado, metas ou prioridades.
São correções urgentes, indispensáveis para resultados de longo prazo e não imediatistas, como 2016.
Hierarquia
As palavras de Nuzman são contraditórias e demonstram que falta comando ao esporte brasileiro. Falta hierarquia, pois na gestão do esporte o ente político confunde-se com o privado. Um entra com o dinheiro o outro com os programas, mas sem entrosamento.
Não compete ao COB formar atletas. Não compete às confederações formar atletas. Há um desperdício de espaço nos clubes e os recursos humanos estão aí, sem ninguém para explorar porque nos faltam programas específicos.
Correções que passam, obrigatoriamente, pela massificação do esporte, pelo melhor aproveitamento da estrutura clubística, pela atualização dos técnicos, pela inclusão do saber universitário no sistema olímpico, pela valorização da escola e seus profissionais. Medidas, enfim, para que as críticas e cobranças não recaiam exclusivamente sobre os atletas.
Avaliação
E, antes de dizer que o Comitê Olímpico não compra medalhas – e seria uma vergonha se isso ocorresse – Nuzman deveria promover uma rigorosa avaliação nas relações com as demais entidades esportivas. E, pelo diálogo, levar ao Ministério proposta de trabalho integrado.
Como está não adianta muito dinheiro nem hospedagem dos atletas no confortável Crystal Palace.
O problema é mais embaixo e está nas mãos dos Senhores! A propósito, qual é a participação do Conselho Nacional do Esporte nessa história? E da Conferência Nacional do Esporte?