Lars indica prioridades para o desenvolvimento do esporte nacional
José Cruz
A vela brasileira, a mais premiada modalidade do país, com 16 conquistas, vai para a sua segunda olimpíada consecutiva sem a participação de um integrante da família Schmidt Grael.
“Este fenômeno já ocorreu em 2008 e sentimos um tremendo vazio”, resumiu Lars Grael, nesta entrevista, mas de olho nos Jogos Rio 2016, quando seus sobrinhos, Martine e Marco poderão estar na equipe brasileira.
Em vinte anos, entre os Jogos de 1984 e 2004, os irmãos Torben e Lars conquistaram sete medalhas olímpicas para o Brasil. Não há registro no país de participação familiar tão expressiva.
Torben, em parceria com Marcelo Ferreira, nas classes Soling e Star, é o mais premiado atleta do país, com cinco conquistas, sendo duas de ouro. Lars tem duas medalhas de bronze: Seul, 1988, com Clínio Freitas, e Atlanta, 1996, com Kiko Pellicano.
Lars e Torben fizeram história na vela olímpica mundial
A entrevista
Fora das raias de competições, Lars participou da gestão do esporte. Foi secretário nacional no governo de Fernando Henrique Cardoso e Secretário Estadual da Juventude, Esporte e Lazer na gestão do paulista Geraldo Alckin, até março de 2006.
Leia a opinião do velejador sobre a vela e o esporte brasileiro em geral:
Depois da histórica participação olímpica e mundial, qual a tua sensação de não ver um ''Grael'' na delegação brasileira?
Lars – Este fenômeno já ocorreu em 2008 e sentimos um tremendo vazio. Em 2008, Torben estava na campanha da Volvo Ocean Race. Eu fui o segundo colocado na eliminatória da classe Star (vencida pela dupla Robert Scheidt/Bruno Prada) e meus sobrinhos ainda não estavam no nível olímpico. Este ano tanto Martine quanto o Marco Grael estiveram próximos da classificação. Não era o momento. Tudo tem a sua hora. É a chegada de uma nova geração da família Schmidt/Grael.
Qual tua expectativa para a sobrinha Martine Soffiatti Grael, para
2016?
Lars – A melhor possível. Martine terá que decidir entre as classes 470 ou 49er FX. Importante manter a parceria com a excelente proeira Isabel Swan. Martine está madura, tem muita raça, índole competitiva e uma rara perseverança. Esperança da vela brasileira.
O desenvolvimento da vela indica boa renovação?
Lars – Aquém do ideal, mas a renovação existe. Nomes como Matheus Dellagnelo; Alexandre Tinoco; Patricia Freitas; Jorginho Zariff; Henrique Haddad e Martine Grael, vão mostrar a nova cara da vela brasileira. Nomes que vão se misturar à experiência de Robert Scheidt e outros expoentes da atual geração.
Entre Sydney 2000 e Londres 2012 a grande diferença é o aporte de recursos públicos. Qual a tua avaliação?
Lars: De Sidney para cá, tivemos vários avanços no esporte brasileiro.
Leis – Agnelo/Piva; Bolsa Atleta; Lei de Incentivo do Esporte; Lei de Importação do Material Olímpico.
Eventos: Jogos Sul-Americanos (2002); Pan-Americanos (2007); Mundiais Militares (2011) e os eventos vindouros (destaque para a Copa do Mundo FIFA e Jogos Olímpicos).
Estrutura de Apoio Federal: Ministério (específico) do Esporte em 2003 e uma multiplicação de investimentos.
Tudo isto de alguma forma e ao seu tempo, impactará no desenvolvimento do esporte brasileiro. Por outro lado, o que falta realmente é uma política integrada de esporte e educação. Em 2000, o Governo Federal resgatou os JEB´s através da Olimpíada Colegial (atual Olimpíadas Escolares). O Programa Esporte na Escola não prosperou e o Programa Segundo Tempo deixou de ser prioridade. No Ministério da Educação, o esporte nunca mais entrou em pauta!!!
O Esporte na Escola era para ser o alicerce do Esporte Brasileiro que sonha em ser potência olímpica e paralímpica. Sem este alicerce, tratamos apenas do imediatismo no esporte brasileiro.
Indique, por favor, cinco prioridades para o Brasil se tornar um país esportivamente desenvolvido.
– Educação Física e Esporte de qualidade e na quantidade necessária na Educação do Brasil. A compreensão desta questão e a decisão deveria vir da própria Presidente da República.
– Promover a Olimpíada Escolar e Jogos Universitários com a mesma relevância que damos para a promoção dos grandes eventos internacionais.
– Valorização do Programa Forças no Esporte (Forças Armadas engajadas no suporte ao esporte olímpico).
– Apoio e engajamento dos clubes esportivos e da chamada rede “S”(SESI e SESC por exemplo).
– Legislação que vincula a transitoriedade, transparência e metas na gestão, para entidades que recebem recursos públicos diretos ou indiretos (Lei de Incentivo; Bolsa Atleta; Jogos da CEF).