Desporto escolar: CBDE, desleixo com os atletas
José Cruz
A partir da notícia sobre a quarta colocação do Brasil nos Jogos Escolares Pan-Americanos, na Guatemala, recebi a seguinte mensagem, que revela a realidade do setor e o descaso governamental Por questões óbvias resguardo a identidade do autor:
“Os atletas, de 16 e 17 anos, foram convocados pela CBDE (Confederação Brasileira de Desporto Escolar) e saíram de Brasília no dia 23 de junho, em direção a Guatemala. O voo fez escala no Panamá e a delegação ficou 12 horas no aeroporto.
1ª surpresa
Foi então que os atletas receberam a notícia de que as refeições na viagem eram por conta de cada um, a CBDE não iria pagar o almoço nem janta. Como isso não foi avisado antes da viagem, muitos atletas não tinham dinheiro suficiente para todo o tempo fora do Brasil e ficaram sem se alimentar. Outros tiveram suas refeições pagas pelos técnicos.
Fantasma
Mas havia um técnico de judô na delegação, mas o Brasil não tinha atletas dessas modalidade na competição.
Nenhuma das delegações do Brasil tinha equipe completa, o que acabou por prejudicar a nossa participação. Ao final, ficamos atrás até de outros países sul-americanos, como o Equador, que participou com equipes completas. Estivemos no handebol, vôlei, futebol, atletismo e natação.
Retorno
Na volta para o Brasil, a primeira parte da delegação desembarcou em Brasília no dia 29 de junho – domingo passado – às 22h30. Ninguém da CBDE estava no voo, apenas os técnicos.
Os atletas de outras cidades passaram a noite no aeroporto, deitados no chão dos corredores, sem direito a refeição ou local para dormir.
Foi oferecido apenas um lanche simples, sendo que a maioria viajaria somente na manhã do dia seguinte, dia 30, alguns por volta das 12h. Até então, estavam sem janta ou café da manhã.
Uniforme
Os uniformes que a delegação usou tinha o símbolo do Ministério do Esporte. Nas costas estava “Brasil”. Acredito que foi liberada verba pública para a viagem. Não tenho certeza sobre isso.
Estou preocupado porque vejo jovens, todos menores de
idade, representando o Brasil mas passando por este tipo de situação.
Não sei se isso é comum, mas não me parece certo eles serem convocados e depois ficarem atirados como estavam no aeroporto, fiquei muito triste com essa situação, principalmente porque estavam com uniforme da representação brasileira.”
Minha análise
Na segunda-feira, encaminhei esta mensagem ao Ministério do Esporte, perguntando se desejava se pronunciar. Não obtive resposta.
No mesmo dia tentei contato com a direção da CBDE. Até ontem, sexta-feira, ninguém atendia os chamados ao “novo telefone” – 61 3321- 576. A mensagem por email também foi ignorada. O presidente da CBDE chama-se Sérgio Rufino.
As denúncias são gravíssimas. Deixo de lado as críticas sobre o desempenho do Brasil porque, como se observa, foi uma delegação apenas “para constar”.
Enquanto jovens atletas são tratados de forma tão desprezível pelas instituições do esporte nacional, Brasília anuncia que será sede das Olimpíadas Escolares Mundiais – Gymnasiade 2013, evento gigantesco que se realiza a cada quatro anos. Somos, de fato, o país dos contrastes. Recursos humanos de um lado; já os financeiros…
Desporto escolar
No ano passado, o Comitê Olímpico Brasileiro recebeu R$ 15 milhões para o desporto escolar. Os recursos foram aplicados na Olimpíada Escolar e os atletas foram recebidos em excelentes hotéis e alimentação de primeira.
No entanto, quem organiza a delegação para os Jogos Sul-Americanos é a CBDE, que não paga a refeição dos atletas no deslocamento. Será que seus diretores tiveram esse “privilégio”?
Desordem
Está aí mais uma prova da “desordem no esporte”. E não é por falta de dinheiro ou de instituições ou de leis. É falta de política efetiva, de metas, de planejamento, de entrosamento entre os órgãos diretivos, de diálogo, enfim.
Esta notícia é publicada na mesma semana que outra, também neste blog, anunciou que verbas públicas destinam-se, também, ao pagamento de salários de funcionários do Comitê Olímpico e Comitê Paralímpico Brasileiros. Quem sabe de diretores, o que será gravíssimo. Ainda não tenho essa última confirmação, que solicitei ao TCU.
Observe a distância entre os fatos: atletas em evento internacional viajando sem dinheiro para a indispensável alimentação ou conforto necessário após competirem, precisando se espichar no chão de um aeroporto expondo ao vexame o uniforme do Brasil que representam.
De outra parte, recursos financiam as Olimpíadas Escolares, organizadas pelo COB. Mas quem cuida da viagem internacional é a CBDE que, como se observa, não está nem aí!!!
CPI
Mais do que nunca a CPI do Esporte se torna oportuna.
O Comitê Olímpico informa que não teremos desempenho melhor que nos Jogos de Pequim, apesar de o dinheiro público ter quase dobrado em quatro anos. Afinal, o que está ocorrendo? quem é o grande gerente desse negócio que tem fartos recursos – humanos, inclusive – mas não prevê evolução nos resultados e, de outra parte, abandona seus jovens competidores em salões de aeroportos?
Já que o Ministério do Esporte não se manifesta diante desse desmando que dura anos, quem sabe o deputado Romário, que foi atleta e sabe o que significa a relação com cartolas, se anima sair em defesa daqueles que são a razão de ser do esporte, atletas e técnicos.