Antes que o dia termine
José Cruz
Por Janaína Lazzaretti
Almoçar com amigos é sempre bom. A pausa no trabalho combina perfeitamente com leveza e descontração. Na véspera da decisão do jogo do Corinthians, porém, o sentimento é outro. Ansiedade, expectativa, tensão… tudo junto e misturado. Impossível não ‘contagiar’ a mesa com a inquietude latente própria de momentos únicos… Deixa eu ser mais clara: o Corinthians nunca esteve em uma final de Libertadores. É o jogo da nossa história. Estamos em 77 ou 2012? Pensamentos que me invadiam. Pobres dos meus acompanhantes Ananda Rope e José Cruz (meu primeiro chefe e mestre de jornalismo, junto de Paulo Rossi).
Não conseguia comer, nem conversar direito. O dia seguinte, quarta-feira, 4 de julho, era histórico. Eu e outros 30 milhões de corintianos sabíamos disso. “Não estarei no Pacaembu no principal jogo do Timão?” Tinha que dar um jeito. Mas qual? “comprar passagem, ir para a porta e esperar um milagre!”, lancei. Veementemente recebi um “não seja louca” dos amigos. Mas eu sou… – “louca por ti… “
O apelo a colegas de editorias de esporte, que trabalham em São Paulo, já tinha sido feito. Busca em sites. Insistência com amigos sócios-torcedores. Ninguém tinha ingresso. Os amigos do Comitê Paralímpico Brasileiro, onde trabalho, não aguentavam mais meu semblante apreensivo. Meu chefe, Jaderson Alencar, me deu folga no dia seguinte: “Vai, tenta”.
O risco de comprar passagem aérea e ficar de fora era gigante. Para quem não me conhece: 1m60, pequenininha. Ninguém apoiava a ideia. Até que às 20h30 recebo uma mensagem inesperada, dessas de dilacerar o coração. Um amigo médico, o Kei, disse que um conhecido não poderia ir ao jogo, tinha que cumprir o plantão. Coitado do moço e que sorte a minha. O setor no estádio era o amarelo, no meio da torcida organizada. Ficaria sozinha, ainda não tinha passagem. E daí? Era o Corinthians na final da Libertadores, valia a pena. Eu estaria lá
Consegui uma promoção vinda dos céus, às 23h de terça-feira: menos de 9h de intervalo entre a compra e o voo. Ufa! O dia demorou a terminar, não dormi. A TAM só não foi mais sensacional porque cancelou o voo, marcado para 12h. O aeroporto de Brasília estava invadido por corintianos. Nova partida anunciada e todos apreensivos para chegar a São Paulo. Previsão: 17h30 estaríamos na capital paulista, a sede do jogo.
O ambiente era de paixão e loucura: num único voo mais de 50 pessoas vestidas com o uniforme do time que buscava fazer história. Menos de 10% dos torcedores com ingresso. O hino do Corinthians foi entoado mais de 10 vezes por crianças, velhos, empresários, presidentes (inclusive o Andrew, aqui do CPB)…
Enfim, a chegada.
Como eu esperava, correria total, um trânsito caótico. Às 19h, o Pacaembu já estava lotado. Mas a sorte estava ao meu lado. Se antes assistiria ao jogo ‘sozinha’, na arquibancada amarela, no fim consegui o improvável: chegar à cadeira laranja, ter excelente vista e a companhia de amigos fanáticos. Ainda não acreditava: eu estava na final da Libertadores. Era o Corinthians enfrentando o bicho-papão Boca Junior.
Independentemente do resultado, já era um sonho tudo aquilo. A nação corintiana impressiona. A raça do time invicto também. Foram 14 jogos sem perder, 22 gols. Osmar Santos diria: “o time do povo foi campeão.” Vou poder contar para os meus filhos que estive ali. Se não vi Neco, Cláudio, Baltazar, Basílio, Sócrates tive o prazer de ver o show do Emerson, Cassio, Chicão, Alessandro, Paulinho, Tite… Parabéns para todo elenco: vocês foram responsáveis por uma noite memorável. Inesquecível. Uma noite interminável…
Os gols ultrapassam descrições. Gritei. Pulei. Abracei. Estão no campo da emoção e eternizados na memória! Que noite! Que viagem!
Mais tarde, já na casa da amiga Cacau, não consegui dormir. Muitos ''loucos'' pelas ruas gritavam o que estava engasgado há mais de 30 anos.
Enfim, faria tudo de novo. Em dobro, se preciso. Porque, aventuras assim só para quem pertence a um “bando de loucos”.
Vai, Corinthians!
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