Blog do José Cruz

Ricardo Leyser investigará uso de R$ 400 mil pela UNE

José Cruz

O crescimento de denúnicas de falcatruas com verbas do tempo dos ex-ministros Agnelo Queiroz e   Orlando Silva são indicativo de um ''mensalão do esporte''?

O Secretário Nacional de Esporte de Alto Rendimento, Ricardo Leyser Gonçalves, informou pelo twitter que se atualizará sobre os “Jogos de Verão da UNE”, suspeitos de não terem sido realizados, apesar dos R$ 400 mil recebidos do Ministério do Esporte.

Com atraso, que sugere desinteresse e desleixo no controle do bem público, mas, enfim, alguém vai se manifestar sobre o estranho caso que aqui divulguei em janeiro de 2011. Dezoito meses depois alguém do Ministério vai olhar o assunto. Baita progresso!

Análises

É muito importante a investigação do secretário Leyser a fim de que se esclareça, de vez, sobre o mistério desse evento, custeado com verba de um ministério de orçamento enxuto, que não consegue pagar em dia a Bolsa-Atleta dos não olímpicos. E isso é gravíssimo!

As denúncias de inúmeras irregularidades no Ministério do Esporte, do tempo dos ex-ministros Agnelo Queiroz e, depois, Orlando Silva, já não podem mais ser analisadas isoladamente pelos órgãos de controle financeiro do governo federal. As dúvidas sobre o destino de tanta verba desviada impõe a necessidade de investigações rigorosas da Polícia Federal, cruzando nomes e instituições beneficiadas, inclusive, como já faz com convênios do Segundo Tempo.

Documentos pesquisados pelo jornalista Walter Guimarães, colaborador assíduo deste blog, indicam que a liberação dos R$ 400 mil para a UNE, para os tais Jogos de Verão, foi assinada por José Lincoln Daemon, subsecretário de Planejamento e Orçamento do Ministério do Esporte.

Nomeado pelo ex-ministro e amigo Agnelo Queiroz, Daemon era quem também cuidava da grana do Segundo Tempo, cuja denúncia de corrupção em vários programas acabou por detonar Orlando Silva da cadeira de ministro.

Devoluções

Em outubro de 2011, a Controladoria Geral da União (CGU) determinou que 26 instituições devolvessem R$ 49 milhões ao Ministério do Esporte, por não terem comprovado o uso legal ao do dinheiro recebido para projetos sociais.

Entre os envolvidos estava a Associação Kung Fu, de Brasília, de João Dias, também amigo de Agnelo Queiroz, que denunciou desvio de dinheiro para beneficiar autoridades do próprio Ministério do Esporte. O processo está em andamento, e de repente João calou-se, desapareceu de cena e ninguém mais fala sobre o assunto.

Novas denúncias

Na edição de domingo, O Globo publicou reportagem mostrando que o patrimônio do governador do Distrito Federal , Agnelo Queiroz, aumentou 12 vezes a partir de 1998. Agnelo foi ministro do Esporte entre 2003 e 2006.

Todas essas informações que recupero como “memória”, envolvendo personagens e instituições ligadas ao PCdoB, mostram como o segmento “esporte” tornou-se fonte fortíssima de pesadas denúncias de corrupção, apesar de Orlando Silva afirmar que não há provas de irregularidades em sua gestão ministerial.

Em resumo a situação é a seguinte:

1. – há dezenas de denúncias de falcatruas no Ministério do Esporte, desde sua criação, identificadas, inclusive, pelo Tribunal de Contas e Controladoria Geral da União

2. – Vários processos estão em fase de investigação pela Polícia Federal

3. – O Ministério do Esporte se omitiu na maioria das denúncias e não deu transparência às investigações.

4. – A maioria de pessoas e instituições citadas nos processos mostram vínculos com o PCdoB, como a União Nacional dos Estudantes.

5. – Diante de tais evidências estaríamos diante de um novo “mensalão”, agora disfarçado pelas emoções do esporte?

Os casos do Instituto Cidades, de Juiz de Fora, da Federação Paulista de Xadrez, das verbas para UNE e as liberações para a Associação Kung Fu, de João Dias, são indicativos para que o ministro Aldo Rebelo determine uma varredura no ministério que agora está sob o seu comando.

Não fará isso, claro, pois seria dar ouvidos a um simples jornalista e, quem sabe, correr o risco de constranger correligionários. Mas os órgãos de fiscalização do governo podem agir cruzando dados, informações e destino da grana. Quem sabe mais surpresas aparecerão e, fora do esporte, tenhamos novas emoções. Tristes emoções…