Blog do José Cruz

Os atletas do lixo

José Cruz

Entre as reportagens que escrevi e guardo com carinho incluo a dos ''Atletas do Lixo''.
Depois de três dias acompanhando a rotina de garis arrecadando imundices em Brasília, escrevi um texto que sintetizava a exaustiva atividade desse pessoal, correndo até 40 km por dia. Fôlego para ganhar o pão de cada dia.
Na observação atenta de um amigo jornalista, Jandir Barreto, que sugeriu a pauta, os garis praticavam, inadvertidamente, três atividades esportivas: corrida, sempre acompanhando o ritmo do caminhão;  levantamento de peso, quando erguiam pesados tonéis com o lixo e, finalmente, o arremesso de peso, jogando os próprios tonéis ou sacos de plástico para dentro das caçambas.
Hoje, com modernos coletores, a atividade dos garis está reduzida à corrida. Mesmo assim, haja fõlego.
Homenagem
O assunto vem a propósito da vitória de Solonei da Silva, na 18ª Maratona de São Paulo, domingo passado, quebrando a hegemonia de três anos do sempre desafiador time queniano.
Solonei, que disputou sua quinta maratona, adquiriu o hábito da corrida e ganhou resistência para os 42,195km quando era gari.
Foi assim, no fôlego e na raça de seu trabalho, que ele se descobriu atleta.
Seu resultado, que já havia mostrado com a medalha de ouro no Pan de Guadalajara, é exemplo inquestionável da falta de políticas públicas para o esporte.
O Brasil é farto de competidores que estão escondidos e, muitos, só surgem ao acaso ou por persistência de seus ideais.
Assim, enquanto festejamos o crescimento de Solonei, lamentamos tantos outros atletas ainda escondidos, quem sabe porque, ironicamente, ainda não tiveram a oportunidade de correr atrás do lixo alheio.
Enquanto isso, boas somas do dinheiro público para o esporte se esvai no desperdício e na corrupção, que aqui temos denunciado com freqüência.

Memória
Vou recuperar a reportagem ''Os atletas do lixo'', publicada no Correio Braziliense, para que os leitores tenham noção de como também se formam atletas no Brasil.