Falta de transparência provoca crise na cúpula do tênis, que é investigada pela Polícia Federal
José Cruz
Segundo vice-presidente da Confederação de Tênis pede na Justiça esclarecimentos sobre gestão financeira do presidente Jorge Lacerda Rosa
Segundo vice-presidente e terceiro na hierarquia sucessória, Arnaldo Gomes rompeu com o presidente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) e foi à Justiça pedir que as contas do cartola Jorge Lacerda sejam investigadas em detalhes.
Arnaldo está envolvido com os demais membros da diretoria da confederação numa queixa-crime que tramita no Ministério Público, em São Paulo, O processo n. 134.001.003152/2011-81, atualmente na Polícia Federal, está em segredo de justiça.
Ao descobrir esses detalhes, Arnaldo deu um basta. Até então acreditava na palavra do presidente. Em fevereiro deste ano, Jorge Rosa visitou Arnaldo, em Brasília, quando garantiu que o processo era exclusivo contra a presidência da CBT. Nessa reunião estavam o assessor da CBT, Sérgio Opréa, e o presidente da Federação Brasiliense de Tênis, Carlos Mamed.
Arnaldo assumiu a vice-presidência em 2009, mas apoiou as mudanças na CBT em 2005, quando Jorge Lacerda Rosa foi eleito.
''Não foi para esconder as contas da confederação nem para realizar acordos suspeitos que tiramos Nelson Nastás, afirmou Arnaldo. Ele também se queixa que falta transparência na gestão, pois nem as reuniões do conselho fiscal são realizadas trimestralmente, como determmina o estatuto da CBT.
As suspeitas de Arnaldo incluem a proximidade do primeiro vice-presidente da CBT, Jesus Tajra, proprietário da empresa Set Point, de Fortaleza. Tajra é beneficiado com a indicação da CBT para realizar eventos de tênis, sua especialidade, caracterizando o uso do cargo para se beneficiar de recursos da Confederação''.
Contas laranjas
Um dos casos mais graves narrados por Arnaldo é de um suspeito contrato da CBT com o Insstituto Tênis, de Florianópolis, do qual Jorge era o vice-presidente. Numa parceria firmada em 2006, o Instituto autorizou que Jorge Lacerda Rosa usasse suas contas correntes para movimentar recursoss da Confederação Brasileira de Tênis.
Tais contas correntes, segundo Jorge, eram necessárias porque, ao assumir a CBT o dinheiro que recebia dos torneios de tênis estava comprometido com débitos da gestão anterior, de Nelson Nastás. Assim, ao usar o Instituto Tênis configorou a criação de contas ''laranjas'' para driblar a Justiça. Pior: não prestou contas dessas movimentações bancária, segundo Arnaldo Gomes.
''Nunca vi uma só prestação de contas dessa movimentação bancária, além de ter sido um ato contrário às normas legais e aos princípios éticos que propusemos implantar na Confedeeração de Tênis'', afirmou o segundo vice-presidente.
Gravíssimo
Pela análise dos documentos dessa parceria, Arnaldo constatou que o estatuto do Instituto Tênis – que cedeu seis contas correntes à CBT – foi adulterado e registrado em cartório sete meses antes da realização da assembléia que aprovou o mesmo estatuto, facilitando a atuação da presidência da CBT.
Memória
Além dos presidentes de federações, renomados tenistas apoiaram o Movimento Tênis Brasil, em 2005, para afastar Nelson Nastás da CBT e manifestando apoio a Jorge Rosa: Gustavo Kuerten, Fernando Meligeni, Thomaz Kock, Nelson Aerts, Ricardo Acioly, Larri Passos, Marcelo Saliola, Patrícia Medrado, Andreia Vieira, João Soares, Mauro Menezes, Roberto Jábali entre outros.
Por conta desses apoios, um processo do Movimento Tênis Brasil, na Justiça de Brasília, foi parar na mesa do juiz federal Eduardo Luiz Rocha Cubas, que diante dos argumentos apreseentados afastou Nelson Nastás da presidêrncia da CBT. Paralelamente, nomeou o brasiliense Sérgio Oprea como interventor da Confederação, que convocou eleições. Jorge Lacerda Rosa venceu.
Agora, indagado sobre aquele ato que visava moralizar a CBT e as denúncias de irregularidades que continuam na Confederação, assim se manifestou o juiz Eduardo Cubas:
Recordo-me que, à época, havia na CBT diversos problemas, inclusive com atuação do Tribunal de Contas da União. Fico muito triste com a notícia de que tais fatos estão sendo objeto de nova investigação''.
Silêncio
Em contatos anteriores com a CBT não obtive respostas às indagações encaminhadas. A assessoria de Jorge Rosa respondeu que ''as informações sobre tais assuntos foram prestadas na época oportuna''.
Na verdade, Jorge Rosa escondeu da imprensa as informações sobre as contas laranjas. E como a CBT é uma instituição que recebe expressivas somas de verbas públicas tem obrigação de dar transparência aos seus atos.
Virando a mesa
Em fevereiro deste ano, Jorge Rosa permitiu mudanças no estatuto da Confederação de Tênis, alterando o que ele mesmo havia proposto, mas garantindo que dispute a terceira eleição e continue cartola até 2016. Com uma gestão dessas e mesmo com bom dinheiro em caixa, o Brasil está sem representante nos Jogos Olímpicos de Londres. Depende de um convite para que apenas um jogador seja chamado. Vergonha para o esporte e desmoralização para a gestão do desacreditado Jorge Lacerda Rosa.