Os Jogos, as contas e as medalhas
José Cruz
Como o aluno relapso que depende de muita nota na prova final, Brasil esportivo faz cálculos para tentar evitar vexame olímpico
O professor Daniel Johnson, da Universidade do Colorado, falará nesta quinta-feira no Ministério do Esporte sobre previsões de conquistas de medalhas olímpicas, a partir da geografia, economia e do modelo político nacional.
“Bola de cristal – O modelo testado desde Sydney 2000 manteve média de acerto de 93% em seis edições dos Jogos, contando os de inverno. No caso do Brasil, o método previu 13 medalhas em Pequim 2008, sendo três de ouro (foram 15, com três de ouro). Já para Londres 2012, Johnson prevê 14 medalhas brasileiras no total, sendo três de ouro. A previsão do COB é 15 medalhas este ano,” informa Eduardo Ohata, hoje, no Painel FC da Folha de S.Paulo.
Prioridade
A preocupação do Ministério do Esporte com a previsão de desempenho dos nossos atletas lembra o aluno relapso que, próximo do final do ano, faz repetidas contas para saber de quanto precisará em cada matéria, a fim de não ser reprovado. Os cálculos passam a ser prioridade e o estudo fica em segundo plano.
No esporte – há nove anos sob a liderança do PC do B –, na falta de uma política para o setor ouviremos um especialista internacional para, quem sabe, nos tranquilizar nas contas finais do jogo dos pódios e das medalhas. Depois cuidaremos da identificação e formação de atletas.
Essa realidade demonstra o desespero do governo – além das confederações e do próprio Comitê Olímpico – para que tenhamos desempenho à altura de país sede dos Jogos 2016, pois não há certeza disso.
Decisão
No ano passado, a III Conferência Nacional do Esporte fixou a meta Top 10 para o Brasil, nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Não sei se os ilustres senhores já combinaram com as 200 delegações adversárias…
Enfim, no país da fartura de recursos públicos vivemos a triste realidade das “contas de chegar”, em detrimento de projetos efetivos de médio e longo prazos, para implantar uma política de esportes englobando escolas, federações, clubes, confederações, comitês, universidades etc.
Recursos
Não nos faltam recursos financeiros – o dinheiro sai de várias fontes como em cachoeiras ou cascatas – ou humanos. São 33 milhões de crianças e adolescentes nas escolas; e aí estão 1.550 AABBs com seus espaços esportivos ociosos, Brasil afora.
Nossa geografia é privilegiadíssima, com relevo, temperatura e umidade extremas, de Norte a Sul, propícias aos treinamentos das diferentes modalidades olímpicas, individuais ou coletivas; temos fartura de espaços – vejam o “legado” do Pan 2007… – de águas interiores e um litoral de fazer inveja.
Porém, mesmo nove anos depois de o Ministério do Esporte ter sido criado, falta-nos o elementar planejamento integrado entre governos da União, estados e municípios.
Falta mais:
– Integração de clubes e federações;
– Diálogo aberto do Comitê Olímpico com as confederações e clubes;
– Entrosamento dos ministérios da Educação, Esporte, Saúde, Meio Ambiente e Turismo para termos uma política única de governo, com aproveitamento integral da população e não exclusiva para a formação de atletas.
– Respeito de dirigentes, burocratas do governo e promotores esportivos para o bom aproveitamento dos recursos públicos;
Falta, enfim, fiscalização mínima para que o dinheiro chegue ao destino e cumpra seus objetivos.
Enquanto isso…
… passa o tempo e vamos às contas, com o devido respeito ao ilustre visitante canadense, que traz sua tese bem fundamentada diante de resultados que exibe de jogos passados.
Mas se os cálculos de Mr. Daniel Johnson não amenizarem nossas angústias olímpicas, que o Ministério do Esporte consulte o Cacique Cobra Coral – “luz que ilumina os fracos e confunde os poderosos”. Aí, quero ver quem nos segura…