Joaquim Cruz lança segunda etapa de seu sonho olímpico
José Cruz
Três décadas depois de ter conquistado a única medalha brasileira de ouro olímpica em provas de pista, Joaquim Cruz (IJC) implanta em Brasília a primeira etapa de um antigo sonho: formar atletas de alto rendimento.
É a continuidade de um plano por ele iniciado em 1989 com o Clube dos DescalSOS, para 120 crianças de 12 a 17 anos, em cinco cidades de Brasília, com apoio da Caixa.
O Clube dos DescalSOS é uma espécie de homenagem às crianças de origem humilde, como a de Joaquim, que iniciou carreira em Brasília no basquete e, mais tarde, no atletismo, onde se consagrou.
A primeira meta do Instituto Joaquim Cruz destina-se ao exercício da cidadania e contriui para o desenvolvimento das potencialidades infanto-juvenis, com atividades esportivas, culturais e educacionais.
Pódio
Agora, surge o programa, “Rumo ao Pódio Olímpico”, dirigido por Ricardo Vidal, que será desenvolvido inicialmente na cidade de Ceilândia – 30km do centro da capital, de onde saiu o fundista Marilson Gomes dos Santos, bicampeão da Maratona de Nova York.
Destinado a 30 garotos entre 16 e 21 anos, serão oferecidas provas de meio e fundo e fundo (800m, 1.500m, 3.000m, 10.000m e maratona).
Meta: ter competidores nas provas de atletismo nos Jogos Olímpicos de 2020. E entre os instrutores para as provas de longa distância estará Ronaldo da Costa, que, em 1998, registrou o recorde mundial da maratona, com 2h06min05s.
Seleção
Os 30 atletas sairão de uma superseleção, a partir de uma prova de 600m. Os 400 melhores que correrem a distância abaixo de 2 minutos passarão à próxima etapa, rumo a mais duas peneiras, até ficarem 50 candidatos. Finalmente, após duas semanas de treinos, mais uma prova para formar a seleção de 30 candidatos a atleta olímpico.
Os classificados receberão treinamento através de equipe multidisciplinar, vales transporte e alimentação, assistência odontológica e uma bolsa em dinheiro (valor não revelado)
O programa está orçado em R$ 3,6 milhões, e já captou R$ 1,4 milhão de patrocínio da multinacional Tetra Pak, via Lei de Incentivo ao Esporte.
Análise da notícia
Com a ausência da prática de educação física nas escolas públicas e a carência de bons programas de atletismo para o volume de jovens estudantes no país — 33 milhões matriculados em 2011 – a iniciativa do Instituto Joaquim Cruz chega para tentar aproveitar uma pequena parte dos talentos escondidos, no celeiro de Brasília.
O programa idealizado pelo campeão olímpico é uma espécie de mutirão, em que Joaquim oferece o nome prestigiado internacionalmente e o programa para os jovens, elaborado nos Estados Unidos, onde ele mora. O governo do Distrito Federal entra com o espaço físico para as atividades esportivas e os recursos financeiros vêm da Lei de Incentivo ao Esporte.
Mesmo com toda essa força conjugada será possível atender apenas 30 jovens candidatos a atleta.
O elogio à iniciativa é, paralelamente, um puxão de orelhas aos governos Federal e do Distrito Federal pela omissão em programas desse tipo. Esses sim, em trabalho integrado dos ministérios da Educação, Esporte e Saúde deveriam, há muito, estar liderando iniciativas do gênero, com programas permanentes em todo o país.
Os milhões de reais do programa Segundo Tempo, desviados para o bolso de espertos pela falta de fiscalização do Ministério do Esporte, poderiam ter sido aplicados em bons projetos se houvesse seriedade e compromisso social de nossos governantes. Perdeu-se, dinheiro, tempo e talentos.
Assim, com limitação de recursos financeiros, serão 30 “felizardos” no Rumo ao Pódio Olímpico num país de milhões de crianças e adolescentes.
É mais um programa que se soma a outros, anônimos, Brasil afora. Mas não há como ignorar que a eliminação de centenas de jovens provocará frustrações. E isso reforçará, insisto, a incompetência e irresponsabilidade governamentais – de ontem e de hoje – incapazes de promover projetos de longo prazo e dando destino proveitoso ao dinheiro público que administram.
Para saber mais: Instituto Joaquim Cruz