Copa 2014: Aldo Rebelo lança o “ritmo da fantasia”
José Cruz
Nesta terça-feira, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, de inquestionável desempenho como presidente da CPI da CBF Nike, em 2001, e, mais tarde, presidente da Câmara dos Deutados, publicou artigo no jornal Correio Braziliense. Com elogios a Brasília ele também debochou dos críticos, entre os quais me incluo, por discordarem da extravagante obra de construção de um estádio de 72 mil lugares, o Mané Garrincha. Custo pra lá de R$ 1 bilhão.
É um texto de ocasião, claro, como já fez em outros jornais, mas com argumentos ufanistas que contrastam a realidade de nosso paupérrimo futebol, de miseráveis 600 torcedores, como na recente final de Campeonato Candango.
Ao apoiar a obra do novo Mané Garrincha, que já consumiu R$ 880 milhões de verba pública, o ministro esqueceu que na mesma cidade ocorrem 56 assaltos por dia; e já se tornaram insuportáveis os “apagões”, cortes de energia que aproxima a Capital da República da precariedade interiorana.
Defender a construção de um gigante de 72 mil lugares numa cidade de esporte fragilizado, sem planos ou metas é incentivar o desperdício e escancarar as portas à corrupção. E que o contribuinte não conte com o Ministério Público do Distrito Federal para conter o abuso governamental. A omissão é real.
Enquanto isso…
– e preste atenção, Ministro Aldo Rebelo – o mesmo jornal onde está seu artigo alvissareiro, publicou editorial que revela dados alarmantes da rede pública de saúde do Distrito Federal. Assim:
“Em 2010, das 2.246 pessoas que aguardavam cuidados radioterápicos apenas 764 atingiram o objetivo. Significa que 60% dos brasilienses que precisavam do tratamento ficaram no caminho”.
Morreram, ministro Aldo Rebelo, enquanto o dinheiro para investimento hospitalar era desviado para a obra do estádio que o Senhor aplaude.
E o quadro, hoje, é, sem exagero, pior, um horror que o Senhor desconhece porque visitar hospitais não faz parte de sua rotina ministerial. Bastam os estádios.
Coincidentemente, a Fifa divulgou ontem o slogan da Copa: “Juntos num só ritmo”.
Em entrevista, ao lado de Jerome Valcke, o chutador oficial de traseiros, o ministro Aldo Rebelo festejou o “ritmo do Brasil, o ritmo da fantasia”…
Agora ficou claro, fantasia…