Blog do José Cruz

Rio 2016: assim na esgrima como no judô

José Cruz

Carta  assinada pela mãe de um jovem esgrimista narrando as dificuldades para o atleta, ainda juvenil, tentar chegar à equipe olímpica de 2016. A mensagem demonstra que os casos de dificuldades financeiras não são exclusivos do judô, que levou atletas à rua para pedirem dinheiro e, assim, poderem treinar na Europa, como publicamos.

A carta

“Tenho um filho que pratica esgrima desde os nove anos, no Esporte Clube Pinheiros. Ele é um apaixonado pela esgrima e tem tido um bom desempenho e ótimos resultados, já há algum tempo. Recebe Bolsa-Atleta e faz parte do projeto de formação (Lei de Incentivo ao Esporte) do clube.

 Com 15 anos, é o 2º do ranking brasileiro juvenil, categoria que vai dos 18 aos 20. No ano passado ele foi campeão sul-americano na modalidade florete masculino.

Recentemente, ele foi para Estado Vargas, na Venezuela, onde aconteceu o Panamericano Cadete e Juvenil de Esgrima, ficando em 2º lugar.

Esteve também na Alemanha, em janeiro. Competiu em Stuttgart e ficou em 30º lugar, competição que contava com mais de 170 atletas de toda a Europa. Tudo por nossa conta.

Com tudo isso, se classificou para o Mundial Juvenil, que se encerrou em Moscou no dia 8 de abril.

Porém, o descaso com o esporte no Brasil é tamanho que Henrique e seus companheiros de seleção já estavam a caminho do aeroporto e ainda não tinham nem as passagens nem o endereço do hotel onde se hospedariam.

Na semana que antecedeu a viagem, conseguimos com muito custo que o clube ''pagasse'' pelo menos as passagens, já que a inscrição para a competição e o hotel nós, pais, é que bancamos.

Além disso, os atletas viajaram sem a companhia do técnico, sem uniforme do Brasil ( pois a confederação não fornece, nem para competições internacionais) e ficaram hospedados num hotel a 30 km de distância do local de competição, sendo que todas as delegações do mundo estavam hospedadas num mesmo hotel, mais próximo.

 O Esporte Clube Pinheiros, por sua vez, alega que a verba para o projeto de formação acabou!  E isso tudo ocorreu mesmo com o calendário de competições tendo saído no ano passado!

Para o próximo campeonato, o sul-americano, que será em maio, em Montevidéu, não sabemos se terá verba… quem quiser participar terá de ser com recursos próprios.

Diga -me se não é um absurdo!!!

Quando vencemos para sediar os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, achei que poderíamos ter mais incentivo… mas já percebi que nada mudou…

Uma pena!!Garotos com tanto talento, esforço e vontade… só não desistiram porque são apaixonados pelo esporte e os pais “se viram” para não decepcioná-los!

E, mais, é excelente aluno e estuda num colégio particular de nome. Mas nem do colégio ele recebe incentivo. Ao contrário. No ano passado, ele perderia as provas por estar no Campeonato Sul-americano. Tivemos que consultar um advogado para que ele fizesse as provas, pois, a escola desconhecia a “Lei Pelé”, que garante direitos aos atletas, por estarem representando a Nação!

Tudo errado!!!!  E assim caminha a esgrima, a educação e o esporte no Brasil! Com esse descaso!

Desculpe meu desabafo, e agradeço seu empenho e preocupação com o esporte nacional.”

Érica Tavian Pereira Marques

ANÁLISE

A carta da Senhora Érica confirma a necessidade de o Ministério do Esporte agir urgentemente e investigar a real aplicação dos recursos públicos que libera. E fica claro que nunca foi tão necessária a criação de uma CPI do Esporte Olímpico. Documentos que estou analisando sobre recursos para o hipismo e tênis, que em breve trarei para este espaço, reforçam a tese.

Está se tornando rotina o crescimento de reclamações de atletas, na mesma proporção em que o governo aumenta as liberações financeiras para o esporte de rendimento.

Enquanto o Ministério do Esporte não agir rigorosa e efetivamente para investigar essas denúncias torna-se cúmplice da irresponsabilidade.