Polícia Federal investiga contas da Confederação de Tênis
José Cruz
Além do Tribunal de Contas e Controladoria Geral da União, também a Polícia Federal investiga denúncias de atos ilegais na Confederação Brasileira de Tênis, que no ano passado recebeu R$ 11 milhões de verba pública.
A informação foi confirmada na sede da PF, na capital paulista. O inquérito, nº 2060/2011-1, está em segredo de justiça.
Quem detonou o processo, inicialmente na Procuradoria da República, em maio de 2011, foi Flávio Falquetto, então presidente da Federação de Tênis do Espírito Santo, hoje fora do cargo.
Repetição
Flávio denunciava a ''falta de transparência nas contas da Confederação de Tênis'', apesar das manifestação contrária do presidente da entidade, Jorge Rosa.
O processo mostra que as denúncias de agora repetem as que Jorge Rosa fazia há sete anos, quando iniciou o ''Movimento Tênis Brasil'' para derrubar Nelson Nastás da presidência da CBT.
Naquela ocasião, Jorge usou o argumento de ''corrupção'' e ''dificuldade de acesso aos balanços da Confederação''. No discurso para chegar ao cargo, prometia ''transparência e perfil ético à gestão do tênis''. Por conta disso ganhou apoios e se elegeu.
Dupla conta
Assim como no jogo de tênis ocorre a ''dupla falta'' – erros seguidos de dois saques –, na gestão financeira da Confederação tivemos ''duplas contas'', entre 2005 e 2007.
Nesses anos, Jorge Rosa utilizou o Instituto Tênis (do qual era vice-presidente) para movimentar recursos da CBT em seis contas correntes: duas no Banco do Brasil, três no Itaú e uma no Nossa Caixa.
Pelo acordo, as contas foram transferidas de Florianópolis, sede do Instituto Tênis, para São Paulo, onde está a CBT. ''Contas laranjas'', como se observa, que concentravam, principalmente, os valores das insrições de torneios.
Na prática, foi um drible que Jorge Rosa aplicou na Justiça, pois o dinheiro que a CBT recebia deveria se destinar, prioritariamente, ao pagamento de dívidas.
Convênio
Essa dupla gestão financeira – CBT/Instituto Tênis – suspeita para uma instituição que movimenta recursos públicos – ocorreu mediante um ''convênio'', de 25 de novembro de 2005.
Porém, há dúvidas: presidentes de federações que conversei afirmaram que as prestações de contas dessa movimentação paralela nunca foram apresentadas nas assembleias da CBT. Além disso, não se sabe se os balanços de 2005, 2006 e 2007 da Confederação de Tênis incluíram os valores movimentados pelo Instituto Tênis.
Indaguei isso à direção da Confederação Brasileira de Tênis, que silenciou. Disse que as explicações foram prestadas ná época oportuna''. Mas não, informações oficiais sobre a parceria com o Instituto Tênis nunca foi prestada publicamente. A tese da ''transparência'' alardeada por Jorge Rosa está no chão.
E agora?
A parceria já foi desfeita, mas nem a direção do Instituto Tênis sabe sobre o que aconteceu com suas contas correntes cedidas à CBT. Em 10 de janeiro de 2008 a direção do Instituto foi aos bancos para conferir os saldos. Surpresa! Teve os pedidos negados.
Ao saber do fato, Jorge Rosa enviou uma ''notificação extra-judicial'' ao Instituto alegando ''desrespeito ao sigilo bancário''. A mesma notificação informava que os dados estavam disponíveis no ''relatório de contas'', encaminhado ao Instituto em 2007.
Agora, a Polícia Federal, que está com inquérito aberto, poderá requerer as contas do convênio com o Instituto Tênis para instruir o processo, confirmar se a parceria foi um ato legal, conferir a regularidade dos atos.
Só assim, com o apoio da Polícia e da Justiça poderemos ter a transparência pública prometida por Jorge Rosa.