Governo sabe desde 2001 sobre operações suspeitas da CBF
José Cruz
''A Polícia Civil do Distrito Federal enviou à Receita Federal indícios de que o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, fez movimentações financeiras suspeitas dentro e fora do país”, informam os companheiros Leandro Colon e Filipe Coutinho da Folha.com
“O dono da empresa Ailanto Marketing e atual presidente do Barcelona, Sandro Rosell, também está envolvido nas negociações suspeitas encontradas nas investigações”, diz a reportagem, referindo-se a negócios do amistoso Brasil x Portugal, em 2008, em Brasília.
Atraso
Se as investigações evoluírem, será por um fato novo, mas com 10 anos de atraso.
Em 2001, o hoje ministro do Esporte, Aldo Rebelo, encaminhou denúncia de irregularidades nas contas da CBF, listando uma série de movimentações financeiras internacionais altamente suspeitas.
Encaminhou para quem? para a Polícia Federal, para a Procuradoria Geral da União, para o Ministério Público Federal, Tribunal de Contas, Receita Federal, Banco Central, Palácio do Planalto, enfim.
As denúncias estão no relatório da CPI da CBF Nike, presidida pelo então deputado Aldo Rebelo.
E qual o resultado dessas investigações?
Alguma dessas entidades avançou nas denúncias? Oficialmente nada se sabe. Dez anos…
Diz o relatório:
“Entre 1998 e 2000, a CBF tomou seis empréstimos junto ao Delta National. Bank and Trust Co, de Nova Iorque, com juros muito acima dos juros correntes no mercado internacional, na época. Foram empréstimos que somaram mais de US$ 39 MILHÕES, e a CBF pagou mais de US$ 6 milhões só de juros”
Segue o relato dos deputados Aldo Rebelo e Silvio Torres, esse último relator da CPI:
“… há fortes indícios de evasão de divisas, uma vez que os juros pagos exorbitam daqueles cobrados no mercado internacional, o que poderá ser conclusivamente apurado pelo Ministério Público”.
Mais:
Um dos empréstimos foi de US$ 7 milhões. O rastreamento da grana, desde o Delta Bank, em Nova Iorque, até a conta corrente da CBF, na agência do Banco Rural, em Belo Horizonte, mostra um caminho complicado.
O dinheiro saiu do Delta, foi para o Banestado, agência de Nova Iorque. Daí foi para a agência do Rural International Bank, em Nassau, Bahama, paraíso fiscal. De lá, seguiu para a conta corrente da CBF no Banco Rural, em BH. E dos US$ 7 milhões contratados, US$ 6,8 milhões foram depositados. As comissões ficaram pelo caminho.
Conclusão
Não é de hoje que as autoridades de fiscalização do governo sabem que a CBF faz negociações internacionais pesadas. Há documentos oficiais sobre o assunto devido à quebra de sigilos fiscais e bancário, tudo no relatório da CPI da CBF Nike.
Mas só agora, 10 anos depois, quando Ricardo Teixeira está fragilizado na sua gestão, com poucas chances de reagir e ameaçado de ficar sem o poder que o ajudou a conquistar amigos influentes, a Polícia Federal é acionada.
Dez anos da primeira denúncia; uma década de silêncio das autoridades do governo federal. Qual o motivo?