Copa do Mundo e Campeonato Candango
José Cruz
Pelo segundo dia consecutivo acompanhei entrevistas do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, para emissoras de televisão. Nos dois programas – terça-feira e ontem – o assunto foi um só: Copa do Mundo.
Pela emoção dos jogos e paixão nacional, o futebol domina o noticiário. Com a Copa chegando, nem se fala. Mas, no caso brasileiro, destaca-se a desordem para receber o grande evento.
Extra campo, apimentando essa interminável confusão, temos o sai-não-sai de Ricardo Teixeira; algo como “intestino entupido” de doente de hospital em vésperas de cirurgia. Trava tudo. Assim é a Copa no Brasil: o governo não fala com a CBF, que não conversa com a Fifa, que espera por decisões das excelências, que não decidem nada.
Inacreditavelmente, ainda se discute se índio terá direito a ingresso, se idoso pagará meia-entrada e se cerveja combina com futebol.
Sob esse enfoque, a gigantesca e prestigiada Copa do Mundo, de investimentos bilionários e parcerias com marcas famosas torna-se um evento menor. Os políticos avacalharam a Copa antes de a bola rolar, comprometem parcerias e diminuem – ainda mais – o prestígio parlamentar.
O ministro Aldo Rebelo deixa seu gabinete, o Congresso Nacional dispensa horas e horas no assunto, como se o país não tivesse graves questões para ocupar o tempo das excelências.
Enquanto isso, na capital da República, alunos têm aula em salas de lata! Outros, nem isso, porque faltam professores. Mas voltemos ao debate sobre cerveja e futebol e, com o devido respeito, índios.
Momento grave
Não é novidade que vivemos um momento de gravidade no esporte. Por mais que as autoridades se entusiasmem com as Copas da Confederação, do Mundo e Olimpíada, temos uma verdadeira desordem institucional, apesar de as instituições estarem todas aí, funcionando e com muito dinheiro, público, claro.
A partir do momento em que o ministro Aldo Rebelo passou a cuidar do assunto Copa – e faz isso com zelo e trabalho assíduo, é verdade – as demais questões do esporte estão ao largo.
Quem debate sobre esporte e educação? sobre educação física na escola? E como estão as denúncias de corrupção no programa Segundo Tempo? E o que dizer da Bolsa Atleta, que tem portaria nova com prejuízo para centenas de atletas?
Apoios e absurdos
É nesse panorama de dúvidas, indecisões e incertezas que o ministro Aldo Rebelo apóia a construção de estádios que, no dizer do Tribunal de Contas da União – reparem, é o TCU afirmando! – serão “elefantes brancos”.
Nas entrevistas, o ministro zomba da expressão:
“Nem elefantes temos no Brasil…”
Um desses elefantes invisíveis está em Brasília.
Aqui, sem clubes nas Séries A ou B do Brasileirão, a média de público no Campeonato Candango é de “espetaculares” 556 pagantes… informou o companheiro Walter Guimarães, analisando os borderôs dos jogos já realizados.
Pior: apenas três das 14 partidas realizadas pelo Campeonato Candango tiveram público acima de mil torcedores.
Mas teremos estádio gigantesco para 75 mil pessoas… cinco ou seis jogos da Copa e acabou.
Diz o ministro Aldo Rebelo, que no pós-Copa esses estádios – Brasília, Manaus, Cuiabá etc – serão usados para outros eventos, culturais, inclusive.
O que dizer do Ginásio de Esportes, com capacidade para 25 mil pessoas, que não consegue manter calendário de ocupação mensal? Como dar garantias para um gigante de 75 mil assentos? Quem arcará com as despesas de sua manutenção?
Falei, falei e sai do foco da questão principal.
Voltemos ao assunto: cerveja e ingressos para índios. Segue o debate.