Loucura & sensatez
José Cruz
Por Bernardo Scartezini
Do Correio Braziliense
Só mesmo um louco para se dar conta de como anda o futebol brasileiro. Sebastián Abreu, o centroavante do Botafogo, estava a reclamar do Estadual do Rio de Janeiro um dia desses. Tem times demais, jogos demais, gramados esburacados demais. Tudo mambembe demais para quem vai armar uma Copa do Mundo, não é mesmo?, provocou o uruguaio El Loco Abreu, com a sensatez que lhe é característica.
Sinto muito, mas aquela estorinha de “o campeonato mais charmoso do Brasil” já não cola mais para este Carioca-2012. O Flamengo, por exemplo, jogou ontem à noite pela pré-Libertadores e já tem um compromisso marcado para amanhã, contra o Olaria, além de um clássico no domingo, contra o Botafogo. Haja charme.
Ainda estamos na primeira semana de fevereiro.
Os jogadores do Fla pediram para que o sindicato dos atletas tentasse adiar o jogo de amanhã. Os dirigentes do clube preferem que seja mantido como está, se não embolaria o calendário mais adiante e atrapalharia os planos da federação. Vão a campo suplentes & aspirantes.
Curioso que os maiores interessados na permanência dos estaduais num calendário estreito — as federações estaduais e os clubes pequenos — sejam também os maiores responsáveis por tornar esses campeonatos menos atraentes a cada ano, ao inchá-los por questões políticas, ao espichá-los em partidas francamente desimportantes.
Curioso também como os chamados times grandes aceitam participar dessa troca de favores. De modo que fica combinado: se o teu time vence o estadual, é o maioral; se vai mal, o que vale é o nacional…
E o que diria Loco Abreu sobre a saga dos estádios públicos para 2014?
O governador Agnelo Queiroz, na semana passada, fez uma visita às obras do estádio que está sendo erguido no Eixo Monumental. A boa notícia é que 50% do trabalho está feito. Oba! A má notícia é que vai sair um tiquinho mais caro do que o previsto: R$ 800, 850 milhões. Epa!
Até então, falava-se em R$ 671 milhões. Mas é que esse orçamento não contemplava a cobertura da arena. O que é mais um daqueles troços curiosos que acontecem por aqui. Ou a cobertura não estava prevista? Na hora de fechar as contas e apresentá-las ao cidadão contribuinte, esqueceram-se da cobertura? Se foi assim, em que momento lembraram-se dela? Foi quando começou a chover agora em janeiro?
Na mesma visitinha às obras, o governador permitiu aos brasilienses que chamemos de “Mané Garrincha” a arena que se ergue. Mané era como chamávamos o estádio que ali existia, meio abandonado, meio esquecido, acanhado demais para a grandeza de nossa pátria, para a ostentação de nossos governantes. Teremos agora um gigante de concreto & metal a atender pelo duplo nome de Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Ah!
Entendo que muitos tenham ficado felizes com a permanência do nome do lendário Mané Garrincha na plaquinha. Mas, cá de minha parte, não posso deixar de lamentar um bocadinho, por acreditar que o velho Mané de pernas tortas não tinha nada a ver com isso tudo que o futebol brasileiro vem se tornando.
Bernardo Scartezini escreve às quintas-feiras no Super Esportes