Explicações de Orlando Silva não convencem, O buraco é mais embaixo!
José Cruz
O ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, admitiu ser preciso mudar o modelo de gestão do esporte brasileiro.
“Qualquer instituição, qualquer família tem metas. E acho que o esporte não tem isso. Até o dirigente, ele tem de ser profissional. Se ele não ganha, fica lá como filantropia”, disse Orlando ao UOL esporte, quinta-feira. A entrevista pode ser vista e ouvida aqui.
Orlando Silva teve oito anos no Ministério, cinco deles como ministro, tempo suficiente para propor e aprovar mudanças no sistema. O que fez?
O problema não está exclusivamente na gestão dos recursos da Lei Piva, mas no conjunto do dinheiro que o governo despeja no esporte de rendimento – aí sim –, sem controle sem “metas” que o ex-ministro reclama; sem prioridades, sem fiscalização. Nada!
Do Ministério, também sai dinheiro de convênios para ações emergenciais – e é muito dinheiro! – espécie de quebra-galhos. Como os R$ 400 mil doados à UNE para realizar um tal de ''Jogos de Verão'', que até hoje não se sabe onde isso ocorreu…
Quando a Lei Agnelo Piva foi proposta, o gestor tinha em mente exatamente livrar os comitês Olímpico e Paraolímpico da burocracia estatal.
Se o recurso das loterias fosse primeiro ao Ministério do Esporte sofreria riscos do contingenciamento – suspensão dos repasses da verba orçamentária –, entraria na vala comum do dinheiro público e na rotina da distribuição política. Seria mais um desperdício.
Ao contrário, a Lei Agnelo Piva permite repassar o dinheiro diretamente ao COB e Comitê Paralímpico, mas sob a fiscalização do TCU. Logo, o problema não está aí – apesar de existir, sabe-se – pois “o buraco é mais embaixo”. E que buraco!!!
Modelo?
Porém, em nove anos de Ministério do Esporte não temos um modelo de esporte para o Brasil, capaz de melhor distribuir os recursos que vêm de várias fontes: orçamento do Ministério, Lei de Incentivo, patrocínio das estatais, Bolsa Atleta, Lei Piva etc.
No geral, não temos um responsável pelo atleta que surge espontaneamente. Não há rumos para ele. Não há, em resumo, uma política de Estado que envolva os ministérios da Educação, a Saúde, a Segurança Pública, Meio Ambiente, Turismo, Indústria e Comércio…
E que diálogo teve Orlando Silva com seus pares nos oito anos de ministério, para fixar metas?
O pior é que, agora com Aldo Rebelo no comando do Ministério do Esporte, continuamos sem ações específicas. Há algumas, mas “inofensivas” para enfrentar a enorme estrutura que o sistema do esporte de rendimento desenvolve há anos, também sem interesse de metas. Algo do tipo: “o dia que organizar estraga…” Entenderam?
E a “meta” passa a ser o olimpismo, como se o esportes para o ser humano se reduzisse a isso, ir a uma olimpíada.
Corrupção
Na entrevista ao UOL Esporte, Orlando Silva ainda se defendeu das acusações de corrupção.
Espero pelas conclusões da Polícia Federal. Mas lembro que a CGU exigiu, ainda em 2011, que 58 órgãos devolvessem a grana recebida do Segundo Tempo. Devolveram?
O esquema do desvio de dinheiro foi quebrado. O prestígio de ocupar cargo ministerial com visibilidade pública facilitada acabou. E Orlando será candidato a vereador em São Paulo, não mais deputado federal, que pretendia ainda nos tempos do governo Lula.