E se existisse…
José Cruz
O leitor Evaristo Costa, de São Paulo, capital, enviou comentário sobre a reportagem da fundista Simone, publicada na Runner´s e que repercuti.
Como tem boa argumentação, achei oportuno publicar com destaque, pois contribui para melhor entendermos o momento do nosso esporte olímpico.
Aí vai o texto de Evaristo:
Na sexta parte da matéria sobre doping (Tempos difíceis), Simone relata que após o vice-campeonato da São Silvestre de 2010 recebera uma proposta para turbinar ilegalmente os resultados:
''Médico famoso, de atleta de triatlo, me ligou e disse: 'Você ficou a 15 segundos da vitória. Podemos tirar isso aí'.''
Ainda na sexta parte da matéria, Simone conta que, quando começou a despontar para o atletismo, dispunha de uma ''dieta balanceada'' como relata abaixo:
''Cheguei a comer minhoca por uma semana, porque não tinha mais mistura em casa. Pegava e fritava'', diz, com os olhos cheios d'água. Às vezes, faltava força para chegar aos treinos ministrados na USP (Universidade de São Paulo). ''Desmaiava porque só tomava chá. Tive anemia profunda.''
Perguntas:
– Se existisse no Brasil um Centro de Excelência aos moldes do IAE (Instituto Australiano do Esporte) e fosse encaminhada para lá – ainda jovem – quando começou a ter resultados mais expressivos, Simone teria utilizado a Eritropoietina para melhorar os 15 segundos de distância que a separavam da vencedora da São Silvestre de 2010, como propôs o famoso médico de atleta de triatlo ?
– Se existisse no Brasil um Centro de Excelência aos moldes do IAE que conta com uma infra-estrutura composta com espaço para moradia e alimentação, Simone precisaria ''balancear sua dieta'' com minhocas fritas e chá, no início de sua carreira ?
– A construção do parque olímpico que abrigará os Jogos de 2016 é mais importante do que dotar nosso país com uma infra-estrutura no mínimo similar a do Instituto Australiano do Esporte ? Para onde atletas com potencial poderiam ser encaminhados para que tivessem toda logística necessária e a fim de serem lapidados para futuros Jogos Olímpicos e outras grandes competições internacionais.
– Ou a priorização de verbas para a construção do parque olímpico de 2016 em detrimento a instalação de locais para o aperfeiçoamento de nossos atletas expoentes faz parte da estratégia da nossa política esportiva tão decantada pelas autoridades do Ministério do Esporte e do COB?
Caro Leitor
O Brasil fez opção inversa: primeiro o megaevento, as grandes construções; os gastos bilionário. Depois o humano, a formação do atleta. E isso contraria, inclusive, a Constituição Federal que em seu artigo 217, referindo-se às verbas públicas para o esporte, diz que devem ser direcionadas, prioritariamente, para o esporte escolar. Não temos isso.
Além disso, o Pan Rio 2007 continua sendo exemplo triste – mas sempre oportuno: a estrutura física está lá, intocável por longos períodos, inutilizada em alguns casos, porque nem para o treinamento de equipes foi aproveitada. Vieram ''grandes eventos'', as ''grandes competições'' como anunciaram? Nada!
E mesmo diante desse evidente desperdício e falta de planejamento a longo prazo para o ''legado'', teremos os Jogos Olímpicos 2016. Algo como se fôssemos especialistas em gastos bilionários.