Dupla função
José Cruz
Por Edgard Alves
Da Folha de S.Paulo – em 4 de fevereiro de 2012
Depois de quatro décadas acompanhando os esportes outrora denominados ''amadores'', especialmente aqueles do programa das Olimpíadas, assumo o desafio da abordagem semanal do mundo olímpico. Esta coluna inaugural coincide com a candidatura de Carlos Arthur Nuzman para seu quinto mandato à frente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), entidade que ele comanda desde 1995.
Ao anunciar sua intenção, Nuzman recebeu o apoio de 24 presidentes de confederações presentes na reunião, fulminando com a chance de surgimento de oposição, pois qualquer candidato precisa do apoio formal de 10 dos 30 membros do colégio.
Uma decisão lamentável de Nuzman, também presidente do Comitê Organizador dos Jogos do Rio-2016, evento que envolve o governo brasileiro. É aí que ele deveria se concentrar, abdicando da inédita dupla função na história olímpica.
Entrevistei Nuzman em várias oportunidades quando ele era um jovem aspirante à presidência do COB, então ocupada havia cerca de duas décadas pelo major Sylvio de Magalhães Padilha, que acabou no posto por 27 anos. Naquela época, Nuzman era favorável à rotatividade dos dirigentes no cargo, embora ele próprio tenha ficado por 20 anos na presidência da Confederação Brasileira de Vôlei.
Parece claro que um dos dois postos ele vai deixar em segundo plano, provavelmente o do COB, menos relevante.
Aliás, no COB, Nuzman patinou na tentativa de melhorar o desempenho do Brasil. No início, em Atlanta-1996, o país ganhou 15 medalhas (três ouros, três pratas e nove bronzes). Ele ressaltou que, ao assumir o posto, a história de Atlanta já estava escrita, não tinha tempo para mudá-la. E que o Brasil e o COB teriam condições de alavancar uma caminhada rumo ao status de potência olímpica.
Isso não aconteceu, apesar do incentivo da Lei Piva (sancionada por Fernando Henrique Cardoso em julho de 2001 e que destina 2% das loterias federais ao COB e ao Comitê Paraolímpico), com discretas campanhas em Sydney-2000 e Atenas-2004 e as 15 medalhas em Pequim-2008 (três ouros, quatro pratas e oito bronzes).
Há grande incerteza, além disso, em relação ao que acontecerá com o projeto Rio-2016, após a experiência do Pan-2007, também no Rio. Naquela ocasião, o Pan abriu suas disputas com estouro monumental no orçamento. Os governos (federal, estadual e municipal) gastariam R$ 414 milhões, mas, na véspera, a conta estava em R$ 3,7 bilhões. Conclusão: a Olimpíada, orçada em R$ 33 bilhões, exige dedicação exclusiva e muito trabalho.
No COB, o dirigente patinou na tentativa de melhorar o desempenho olímpico do Brasil
EDGAR ALVES é jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos aos sábados. Foi repórter e chefe de reportagem do caderno ''Esporte'', participou da cobertura das Olimpíadas de Montreal-1976, Moscou-1980, Atlanta-1996, Sydney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008, além dos Pan-Americanos de San Juan-1979, Havana-1991, Mar del Plata-1995 e Rio-2007.