Secretário de fôlego
José Cruz
Vascaíno detentor da comenda de “Grande Benemérito”, Luis Fernandes assumiu a secretaria-executiva do Ministério do Esporte, o segundo cargo em importância na estrutura da pasta, vice do titular Aldo Rebelo.
Real brincadeira de “boas-vindas” ao bem-humorado secretário, claro, mas a observação foi de um colorado. Ele não perdeu a ocasião de relacionar o cargo do titular ao folclore das conquistas de vices-campeonatos do simpático clube carioca.
Brincadeira de torcedor, repito, porque o cientista político – com doutorado nos Estados Unidos, Luís Fernandes retornou prestigiado à Esplanada dos Ministério –, depois de passagens por outras pastas, como a de Ciência e Tecnologia, com quem quer maior intercâmbio, de olho nos megaeventos que se aproximam.
É no gabinete do secretário-executivo que se concentrarão os principais debates e decisões sobre Copa do Mundo e Olimpíada no Brasil.
Essa é mais uma mudança do ministro Aldo Rebelo, esvaziando a Secretaria de Futebol, onde estava o assunto para 2014, e que na gestão do ex-ministro Orlando Silva tinha predominância política, ao contrário de agora, de perfil técnico. A decisão ministerial recebeu o aval do presidente do PCdoB, Renato Rabelo, presente à solenidade desta tarde, em Brasília.
Grupos
Com um calendário extremamente apertado diante do atraso nas frentes de trabalho para a Copa do Mundo – as obras públicas, principalmente –, o novo secretário-executivo comandará também as ações de rotina do Ministério, como reorganizar o programa Segundo Tempo – investigado por denúncias de corrupção, de longa data, e uso de cargos para campanhas eleitorais.
“É possível combinar aumento de eficiência na gestão com o estrito cumprimento da legalidade”, afirmou. Traduzindo: transparência e responsabilidade nos atos públicos.
Ação política
Político de tradição no PCdoB, o deputado federal Aldo Rebelo (SP) dá, aos poucos, novo perfil ao Ministério do Esporte, assessorando-se de pessoal com experiência técnica, indispensável para enfrentar os megaeventos, a partir da Copa das Confederações, já no ano que vem.
Assim, o ministro ficará mais liberado para as ações políticas, quer no Congresso Nacional – onde ainda tramita a Lei Geral da Copa – quer com as demais instituições, internacionais, inclusive.
A mudança é muito clara: Orlando Silva usava esses megaeventos como plataforma política para se projetar – e os companheiros, inclusive – em campanhas eleitorais. Aldo até poderá fazer isso, mas prioritariamente procura recuperar a credibilidade da desgastada pasta e, por extensão, do histórico partido ao qual pertence.
Dúvida
“As prioridades do ministério são Copa e Olimpíada, declarou o secretário Luís Fernandes.”
Mas diante do gigantismo do esporte brasileiro – com enorme abrangência em dezenas de modalidades – fico em dúvida se um gestor ocupado com megaeventos terá tempo para as questões internas, ainda frágeis na própria estrutura e crônica falta de diálogo entre os entes institucionais, e sem termos, ainda, base sólida para projetar novos talentos.
Corredor de provas de fundo, Luís Fernandes testará, agora, se tem fôlego para a exigente burocracia do esporte na Esplanada dos Ministérios.
Bem-vindo, secretário, e boa sorte ao seu Vasco da Gama.