Copa 2014: é dando que se recebe
José Cruz
O mais novo integrante do conselho do Comitê Local da Copa do Mundo no Brasil, o ex-craque Ronaldo Nazário, comportou-se como um relações públicas de luxo na coletiva desta tarde no Ministério do Esporte, em Brasília.
Escalado por Ricardo Teixeira para ser o porta-voz do Comitê, Ronaldo – fortalecido no cargo e, muito mais, fisicamente – ainda está longe de ser o executivo do futebol que fale com desempenho, autoridade e convicção.
Na coletiva, diante do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e do secretário executivo da Fifa, Jérôme Valcke, Ronaldo afirmou que o presidente Ricardo Teixeira anunciará, brevemente, quem será o terceiro integrante do conselho, do qual os dois já fazem parte. No país da Copa, desde 2007, isso é a novidade! A oitocentos e poucos dias da abertura do Mundial, teremos, enfim, um conselho no Comitê Organizador…
Por isso, e pela forma pouco clara das respostas do robusto e famoso “new” cartola, fico em dúvidas: afinal, qual o papel de Ronaldo nesse esquema que, até sua chegada, o Comitê funcionava mais como um conselho de família?
Segurança
Do lado ministerial, a informação mais importante é que, a partir de amanhã, começará a ser discutido um dos temas mais difíceis do segundo ciclo da matriz de responsabilidade: segurança da Copa. O segundo ciclo envolve, também, infraestrutura turística, sustentabilidade ambiental, saúde, energia e telecomunicações.
O primeiro ciclo, já em desenvolvimento, concentra as obras dos estádios, aeroportos e mobilidade urbana. E o terceiro ciclo previsto trata da malha aérea e priorização nos trâmites de alfândega e check-in.
A matriz de responsabilidade é o documento que determina quem executará determinadas ações e fixa a origem dos recursos, federal, estadual ou municipal. Com isso, o governo quer evitar a repetição da ''festa do Pan 2007'', quando a conta maior foi enviada ao orçamento da União.
Os atrasos das matrizes do segundo e do terceiro ciclos estaão registrados em todos os relatórios do Tribunal de Contas da União, que fiscaliza as obras para o megaevento e alerta para a urgência dos assuntos, já que o governo sabe desde 2007 que será a capital do futebol, em 2014.
Mudanças
Talvez pelo atraso que herdou nas questões da Copa o ministro Aldo Rebelo tenha decidido trazer para o seu gabinete os assuntos relacionados ao Mundial de 2014.
Até então, o assunto era tratado na Secretaria do Futebol, mas agora está sob a responsabilidade da Secretaria-Executiva do Ministério, cujo titular é o recém-empossado Luiz Fernandes, que também participou da coletiva.
Realidade
Na rápida coletiva desta tarde, ficou evidente que a Fifa não está satisfeita com o Congresso Nacional. Mas na Casa onde a ratazana não entra em e recesso e morde o calcanhar de funcionários, a conversa é outra.
É na Câmara dos Deputados que tramita a Lei Geral da Copa. Ela deverá ser votada na Comissão Especial só em março. Depois, irá a plenário e, em seguida, ao Senado Federal.
E como é nessa Lei que estão as garantias do Estado ao evento, o atraso na sua aprovação torna-se angustiante aos senhores da Fifa.
À pergunta de um jornalista, Valcker respondeu que os brasileiros são muito exigentes, o que está dificultando a aprovação da lei.
Particularmente tenho outra tese: a demora em aprovar o texto é porque as excelências esperam por tratamento VIP. Que o Comitê Local ofereça a deputados e senadores uma quota de ingressos para os jogos da Copa, e tudo será aprovado sem contestações ou lamentos de agressões à soberania nacional. Em tese, políticos são assim, obedientes à lei do “é dando que se recebe”…