Blog do José Cruz

Presente de Natal: Identidade Xavante

José Cruz

Nas minhas andanças de fim de ano, Brasil afora, chego a Pelotas para visitar a família. Aqui estão minhas origens acadêmicas e primeiros contatos jornalísticos com o esporte.

E foi em Pelotas que recebi hoje um belo presente de Natal, do amigo Cláudio Milton Cassal de Andrea, organizador do  livro “Identidade Xavante”, riquíssima retrospectiva dos 100 anos do Grêmio Esportivo Brasil, completados no último 7 de Setembro.

É uma publicação à altura da história do “Xavante”, como é conhecida a tradicional agremiação, nas cores vermelha e preta, que conta com uma torcida sem igual no interior gaúcho.

“A maior e mais fiel”, diz a faixa carregada pelos torcedores, nos jogos do Grêmio Esportivo Brasil, agora clube centenário do nosso futebol. Os gaúchos, em geral, e os pelotenses, em particular, espalhados pelo país, sabem muito bem o que significa a “paixão xavante”.

Três histórias

No dia 22 de março de 1957, o Santos disputou um amistoso com o Grêmio Esportivo Brasil, no “Estádio da Baixada”, em Pelotas: 2 x 2.

Mais tarde, já no hotel da delegação santista, o presidente do Brasil, Clóvis Gotuzzo Russomano, recebeu proposta do então técnico santista, Lula dos Santos, sobre uma possível troca de Joaquinzinho, um talentoso meia-esquerda, por Pelé, à época com 16 anos.

Russomano topou, mas exigiu, além de Pelé, compensação em dinheiro para fechar a transação. Afinal, Joaquinzinho era estrela desejada pelos principais clubes do Rio e São Paulo.

Sem acordo o negócio não foi fechado. E no ano seguinte, o garoto que atuara apenas no segundo tempo no jogo com o G.E.Brasil, conquistava o mundo com a Seleção Brasileira, na conquista do primeiro Campeonato Mundial, na Suécia.

Numa entrevista – com a presença de Nilton Santos e mais quatro colegas repórteres do Correio Braziliense – perguntei a Pelé sobre esta proposta. Ele – à época já ministro do Esporte – confirmou. Mas, como o Santos não quis compensar o Xavante com uma determinada quantia, nada foi realizado.

Excursão

A segunda história é sobre a excursão do Brasil às Américas, em 1956. Realizou 28 jogos, com 16 vitórias, seis empates  e seis derrotas – 75 gols a favor e 50 contra, conforme registro no livro “Identidade Xavante.

Porém, os detalhes dessa viagem, quem ainda vai nos contar é o jornalista José Ubirajara Coelho de Souza Timm. Ele foi o jornalista da delegação Xavante na excursão pelas Américas, e lembra – hoje com boas risadas – sobre o dia em que o empresário fugiu com o dinheiro, inclusive as cotas recebidas dos jogos ainda por realizar.

Ubirajara Timm, hoje com 80 anos, mora em Brasília e tem passagens maravilhosas do Xavante, “daquele tempo”…

Tenho o compromisso de, com os companheiros Lourenço Cazarré e Luiz Ricardo Lanzetta, ambos pelotenses que moram na Capital da República, ouvir Ubirajara Timm. O depoimento dele será entregue à direção do Grêmio Esportivo Brasil para compor a história centenária do clube.

Finalmente:

A terceira história sobre os Xavantes publicarei neste blog na próxima semana. Trata-se de uma reportagem que fiz com torcedores cegos que vão ao estádio onde o Brasil está jogando.

Com um radinho grudado aos ouvidos, eles dizem que querem sentir “a vibração da massa rubro-negra”, que, de fato, é emocionante.

“Com os olhos da paixão” é o título da reportagem que publiquei, ainda quando trabalhava no Correio Braziliense. O episódio, que me emocionou, escancara a alma do torcedor brasileiro pelo futebol, e do torcedor Xavante, em particular.