O balanço oficial mas ilusório do Ministério do Esporte
José Cruz
Continuo folheando o relatório do Ministério do Esporte – 2003 até 2010. É uma espécie de balanço governamental, que justifica a criação do órgão, a partir do primeiro mandato do então presidente Lula da Silva.
Outro dia comentei sobre a Timemania, com dados do relatório. Hoje, vou me deter num item importante: “Programas, investimentos e atendimentos”. Sigo a ordem de apresentação do próprio Ministério do Esporte, lembrando que os valores são referentes aos últimos oito anos.
Segundo Tempo – R$ 850 milhões. 4,3 milhões de atendimentos a crianças adolescentes e jovens, de 2003 a 2010.
É o mais polêmico programa do ME, com muitos convênios sob investigação policial e dos órgãos de fiscalização do governo, TCU e CGU.
Esporte e Lazer da Cidade – R$152,5 milhões. 10,6 milhões de atendimentos. 18.995 postos de trabalhos e 22.898 agentes sociais e gestores capacitados.
Pintando a Cidadania – R$ 75,7 milhões. Absorve mão-de-obra de três mil pessoas de comunidades carentes, em 35 unidades de produção de materiais esportivos. Até 2010 foram produzidos 4,9 milhões de itens.
Pintando a Liberdade – Geração de empregos direto para 13 mil internos do sistema prisional, em 73 unidades de produção de material esportivo. Até 2010, foram produzidos 2,9 milhões de itens (bolas, redes, sacolas, agasalhos etc)
Bolsa Atleta – R$ 212,2 milhões – 13.178 atletas bolsistas entre 2005 e 2009.
Fiz vários comentários sobre este programa, inclusive denunciando atletas que pararam de competir, mas que continuavam recebendo a Bolsa. O programa passou por mudanças. Uma recente atualização, inclusive, revela, em princípio, prejuízos para os atletas. Estou lendo sobre o assunto para comenta, oportunamente.
Núcleo de Esporte de Base – R$ 12,1 milhões – Desde 2004, 110 núcleos implantados.
Seria interessante o ME revelar onde estão esses núcleos, quantos atletas efetivamente revelaram, quem cuida de suas carreiras etc. Os números são vagos e por isso suspeitos.
Rede CENESP – R$ 3,6 milhões – Desde 2003, houve mais de mil produções científicas publicadas.
Estou levantando dados oficiais para demonstrar que o ME abandou a rede CENESP. Um desperdício de dinheiro em oito anos, sem continuidade de projetos e frustrando dezenas de profissionais.
Talento esportivo – R$ 1,2 milhão – Desde 2004, 150 mil atletas entre 7 e 14 anos avaliados e cerca de sete mil talentos descobertos.
Mais uma informação altamente suspeita, pois não se sabe onde treinam esses talentos, quem os orienta, quem os sustenta etc. Com sete mil talentos descobertos temos aí, no mínimo, 20 equipes para os Jogos Olímpicos de 2016. Duvido! R$ 1,2 milhão em sete anos é miséria para treinar “sete mil talentos”. O ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, deveria ter vergonha de assinar um relatório com informações falsas.
Centros Regionais de Treinamento – R$ 11,3 milhões – de 2004 a 2010, cinco centros foram implantados, onde mais de mil atletas foram atendidos por ano.
É outra informação suspeita. Recentemente a Confederação de Atletismo anunciou que fecharia três centros de treinamento porque o ME não repassava os recursos prometidos. Portanto, é informação para rechear o relatório e iludir leitores.
Vou levantar os gastos desses itens no Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI) para confrontar com os dados reais com os publicado. Com certeza haverá surpresas.