Blog do José Cruz

Arquivo : Aldemir Teles

Presente de Natal
Comentários Comente

José Cruz

Apresentação que fiz do mais recente blog, que se propõe debater sobre o esporte fora das quatro linhas, mas  sob o enfoque da legislação, políticas públicas, recursos financeiros etc. A iniciativa do professor Aldemir Teles, de Recife, é um presente de Natal diante dos escassos espaços para discussões acadêmicas e afins. Bem-vindo!

No país do futebol discute-se sobre o gol impedido, a bola que não entrou, a falha da arbitragem, a goleada de 7 x 1, enfim. Mas nem na arquibancada do basquete, do vôlei à beira da piscina ou da pista de atletismo discute-se sobre o dinheiro público do esporte, sobre a legislação ultrapassada, a ausência de política de governo de um “esporte para todos” e por aí vai.

 Por isso, as boas iniciativas editoriais que abordem temas ainda escondidos do bom debate devem ser aplaudidas com entusiasmo. É o que faço com a chegada do “Esportes21, que hoje lança seu portal.

É importante que essa iniciativa do professor Aldemir Teles, parceiro do bom debate na rede, ocorra no Nordeste, pois, apesar da contribuição dessa região para a história do país e dos talentos esportivos aí já revelados, é um recanto brasileiro ainda distante das principais fontes de financiamento do esporte.

Para que se tenha ideia, só as regiões Sudeste e Sul captam 92% dos recursos aprovados na Lei de Incentivo ao Esporte, com os restantes 8% distribuídos pelo Norte, Centro-Oeste e Nordeste. Fica este exemplo como sugestão, para que o Esportes´21 mergulhe no debate acadêmico-político-esportivo, ponto de partida para ajudar a construir um Brasil esportivo economicamente mais equilibrado. 

Em frente!


Atleta na escola, que não ensina esporte
Comentários Comente

José Cruz

Por Aldemir Teles

Escola Superior de Educação Física – Universidade de Pernambuco

Em artigo anteriormente publicado neste espaço, me referi ao fracasso do “Programa Atleta na Escola”, do governo federal, numa parceria entre os Ministérios do Esporte e da Educação. O tal programa foi criado mais pela necessidade de prestar satisfação à sociedade, em virtude da proximidade da Olimpíada Rio 2016, do que dar consistência à formação esportiva e cultural aos milhões de escolares brasileiros

foto 32

A ação, criada e elaborada nos gabinetes de Brasília, não é suficiente nem me parece a mais adequada para superar a necessidade do acesso à pratica esportiva e, especialmente, da apropriação do conhecimento dos conteúdos do esporte pelos escolares, de forma regular e sistematizada.

Penso que a forma como o “Atleta na Escola” foi idealizado, de forma irrefletida e descontextualizada, não considerou a realidade das escolas, tanto no que se refere às instalações e equipamentos quanto ao currículo escolar da educação física, que não privilegia os conteúdos do esporte, nem mesmo o esporte como componente extracurricular.

Qualificação dos professores

Outra lacuna importante é a deficiente qualificação dos professores, na maioria dos casos, e falta de atualização sistemática desses para atuar no esporte. Quantos professores estão qualificados para preparar um escolar para participar de uma prova de 3000m? Esta é uma das provas da modalidade de atletismo previstas no programa. Correr essa distância em determinada ocasião é muito diferente de participar de competições, que exige uma preparação adequada e sistemática. Além disso, a prova pode significar um risco potencial para a saúde do escolar e é recomendável uma avaliação clínica pré-participação.

Entender essa questão fica mais fácil se compararmos com o “aluno atleta” da Olimpíada de Matemática. Ele estuda essa disciplina durante todo o currículo escolar. Pode até ter reforço com objetivo na participação, mas a aprendizagem ocorre no dia-a-dia. Isso não ocorre com o esporte, que não é suficientemente ensinado, aprendido ou vivenciado nas aulas de educação física, quando acontecem, nem nas atividades extraclasse.

Apesar disso, o programa estabelece a realização das etapas escolar, municipal, estadual, até a fase nacional, como se a realidade das milhares de escolas no país que aderiram à ação estivessem em condições de responder, razoavelmente, às metas estabelecidas. Essa não é a realidade.

Investimentos

Os dados que pesquisei sobre o investimento e participação das escolas e alunos no programa, em 2014, deixaram algumas dúvidas. Por exemplo, quantos dos 4,1 milhões de participantes (18% de escolares da rede pública) chegaram à fase estadual e à fase nacional nos Jogos Escolares da Juventude? Para o investimento de R$ 70 milhões (R$ 1mil por escola; R$ 3,00 por aluno inscrito) é preciso avaliar o resultado do investimento. Assim como outros programas oficiais, a população não tem conhecimento da relação custo/efetividade dos mesmos. Não divulgaram se as metas foram alcançadas ou não. O aumento no número de inscrições de escolas e de atletas não significam, por si só, a qualidade do programa.

Existem acordos com as Confederações para se responsabilizarem pela capacitação dos professores das escolas que aderirem ao programa. É o caso da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo). Parece-me que essa não é tarefa das confederações. Ouvi, de pessoas do Ministério do Esporte, que “programas de qualificação deveriam ser de responsabilidades de treinadores e não de professores”. Então a ideia vai se confirmando sem nenhuma avaliação crítica da questão. Há uma questão, inclusive, de viabilidade. As confederações não possuem quadros para isso.

A extinção ou não realização do “Atleta na Escola” em 2015, seja pelo motivo que for, pode representar um bom momento para refletir sobre os temas apontados aqui e buscar alternativas mais producentes para assegurar o acesso à prática e à aprendizagem do esporte por milhões de escolares no país.

Contato: aldemirteles@uol.com.br

Nota do blog: a fim de incentivar o debate, este espaço está disponível para publicar outras considerações sobre o tema.

 

 


Jogos Rio 2016: os equívocos do Ministro
Comentários Comente

José Cruz

Prof. Ms Aldemir Teles   

Escola Superior de Educação Fisica – Universidade de Pernambuco (aldemirteles@uol.com.br)

George Hilton acredita no papel do esporte como fator de prevenção (de doenças), mais que formar atletas de rendimento. Pensa que esse é “o grande legado que (a Olimpíada) deixará para o país”

Sem grandes (e boas) novidades. Mas quem se apresentou na “Sabatinas Olímpicas”, no jornal Folha de S.Paulo, na terça-feira, foi um ministro do Esporte realista em relação às metas do COB (Comitê Olímpico do Brasil), quanto ao número de medalhas a serem conquistadas. Meta “difícil”, segundo George Hilton (foto) george_hilton

Ele supervalorizou a presença de psicólogos na preparação dos atletas para os Jogos Rio 2016, quando outros recursos indispensáveis, desde a formação, não são disponibilizados para atletas e equipes.

O ministro exagerou ao justificar que o fracasso do Brasil na Copa 2014 deve-se à falta de melhor acompanhamento (psicológico) e ao “nível de tensão muito grande”. Assim, ele minimizou, demasiadamente, os outros aspectos que influenciaram no mau resultado da Seleção Brasileira. Além de não considerar o efetivo potencial da Alemanha, campeã da Copa.

George Hilton acredita no papel do esporte como fator de prevenção (de doenças), mais que formar atletas de rendimento. Pensa que esse é “o grande legado que (a Olimpíada) deixará para o país”.

Considero outro equívoco essa visão utilitarista do esporte. Política de prevenção é com o Ministério da Saúde. O gestor ainda não entendeu as dimensões do esporte como um todo, especialmente a cultural.

Recado

Não haverá legado esportivo, nem na dimensão cultural, nem no sentido de tornar a população mais ativa fisicamente. Para haver legado é necessária preparação, de anos, que antecedem o evento. E não faltando menos de um ano, como ocorre no momento.

O legado não se dá por si só. Exige planejamento, trabalho. É preciso desenvolver ações com toda a população (do país e não apenas do Rio de Janeiro) para que se engaje efetivamente no evento. Ações essas que não existiram.

Desde que o Rio de Janeiro foi eleito sede olímpica, em 2009, dizem em discursos oficiais que os Jogos serão de todos os brasileiros. O ministro George Hilton repete a promessa.

Mas, a pergunta é: como o restante do Brasil está vivenciando esse megaevento? Ou vai vivenciar? Quais ações estão em curso atualmente para que a população brasileira, “do Oiapoque ao Chuí” participe dos Jogos?

A seguir, um levantamento que realizei das estruturas esportivas do país, selecionadas para sediar o Treinamento Pré-Jogos, também chamado de período de aclimatação, para as delegações dos países que virão disputar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

Infraestrutura desigual

Os dados, do Comitê Rio 2016, mostram as desigualdades regionais em termos de infraestrutura, tanto na quantidade quanto na qualidade dos equipamentos e a carência de determinadas regiões do país.

Se houvesse interesse, de verdade, na participação da federação, passados seis anos da conquista da sede olímpica, a situação da infraestrutura seria diferente. Foram 176 locais selecionados.

Aldemir

 


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>