Blog do José Cruz

“Porumtriz”: ex-ginasta da Seleção relembra acidente grave em forma de arte

José Cruz

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“Em cena, estou trazendo esta memória do acidente, de forma poética e espetacular…”

Na foto de João Saenger, Beatrice encena o número ''Beatriz'', referência à música de Chico Buarque:
''Me ensina a não andar com os pés no chão; Para sempre é sempre por um triz''

 

Porumtriz – o risco da vida sob a ótica de uma acrobata –  espetáculo que a ex-ginasta da Seleção Brasileira, Beatrice Martins, estreia hoje, em Brasília, é um misto de dança e de dramaturgia, de sonhos vividos e sonhos interrompidos. É, também, memória do grave acidente que ela sofreu, no ônibus em que estava a equipe de ginástica artística do Flamengo, em 1997, na Via Dutra. Seis passageiros morreram, e a técnica das ginastas, Georgette Vidor,  ficou paraplégica

Depois de várias cirurgias para recompor a anatomia do pé direito, Beatrice, então com 16 anos, abandonou o esporte de competição para se especializar em tecido acrobático, evoluindo para o trapézio em espetáculos com produções artísticas.

“PORUMTRIZ,

com direção e dramaturgia de Raquel Karro, coloca o circo em diálogo com outras linguagens, evocando um elemento que é frequentemente posto em evidência pelo artista circense: o risco da morte. Esse risco pode ser metafórico, mas muitas vezes é real”

A origem 

A expressão por um triz veio há exatos três anos, quando fui selecionada para um laboratório artístico na França”, contou Beatrice. Minha proposta era desenvolver um trabalho iniciado com a Raquel Karro (atriz, coreógrafa e produtora de apresentações em aparelhos aéreos) em 2009, quando criamos um número de acrobacias e dança, em um trapézio a um metro do solo.  Eu Tinha esta pesquisa do aparelho, que normalmente está a vários metros de altura, tão próximo do chão, desenvolvendo esta relação com o solo. Tem um momento do número, que a minha cabeça passa a poucos centímetros do chão, a um triz”.

Depois da França, quando escrevia o projeto de montagem para concorrer ao Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, Beatrice pensou que, além do tema dos diversos riscos no circo (calculados ou não), poderia contar algumas experiências de risco na própria vida, como o acidente que sofreu em 1997.

Em cena, estou trazendo esta memória do acidente, de forma poética e espetacular, tudo orquestrado pela Raquel (Karro), que tem uma bela sensibilidade para trazer à cena o indivíduo em cada intérprete, acrobata ou trapezista…”

O que ficou, 18 anos depois, daquele momento do acidente?  

Ficaram cicatrizes na pele, em alguns ossos, tendões e uma memória contada, agora, através do espetáculo.

Quanto tempo de recuperação?

A recuperação durou um pouco mais de um ano. Tentei voltar aos treinos, mas tinha um pé enfraquecido e o corpo completamente despreparado. Fiz faculdade de publicidade, alguns outros esportes e descobri aulas de circo no próprio ginásio do Setor Leste (em Brasília). De lá para cá, não parei de mexer o corpo. Trabalhei em apresentações circenses com diversos artistas e grupos da cidade, viajei nos Estados Unidos com um circo itinerante de lá, e fiz diversas aulas com diferentes professores e linguagens. 

Porumtriz
16, 17 e 18 de dezembro, às 21h
Teatro Plínio Marcos, Complexo Cultural Funarte (Brasília)
Na quinta-feira, bate-papo com os criadores, logo após a apresentação

Realização:

Fundo de Apoio à Cultura – FAC/DF
Coletivo Instrumento de Ver