Blog do José Cruz

A insegurança explícita dos estádios brasileiros

José Cruz

  Em nenhum lugar do mundo poderia acontecer uma partida de futebol com tantas “armas brancas” à disposição dos torcedores

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 Foi nessas condições que o estádio Mané Garrincha recebeu o jogo Atlético-MG 4×1 Fluminense, ontem:  bastões de ferro de uma estrutura desmontada eram um risco à integridade dos torcedores. O jogo acabou sem tumultos

Walter Guimarães, texto e fotos

Em duas rodadas do Brasileirão já foram disputadas três partidas fora das praças dos times mandantes. Mas, quem é o responsável pela segurança nesses casos? Os empresários promotores dos jogos, o governo local que cede o estádio, o clube mandante?

Pior:

Questiono especificamente sobre um estádio que sediou sete jogos da Copa-2014 e receberá outros tantos na Rio-2016. Parece ridículo falar assim, mas ridículo mesmo é o que encontrei ontem, no entorno do Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília.

As fotos, tiradas uma hora e meia antes da partida entre Fluminense x Atlético-MG, são da desmontagem da estrutura de shows musicais realizados nos últimos dias, no estacionamento externo do Mané Garrincha. As estruturas metálicas, no chão, são verdadeiras armas.

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Um amigo me perguntou se eu lembrava, “quando o Pacaembu estava em reformas e torcedores palmeirenses e sãopaulinos começaram a brigar?” Quem lembra bem daquele 20 de agosto de 1995 são os mais de 100 feridos e, principalmente, a família de Márcio Gasparin da Silva, um garoto de 16 anos que morreu num hospital, dez dias depois da batalha. Era a final de uma fadada Supercopa de Juniores e os torcedores utilizaram justamente entulhos da obra para se degladiarem.

Invenção

O governo federal inventou uma Secretaria Nacional do Futebol, num tal Ministério do Esporte, que está a apenas 4km do Estádio Nacional. Entre os programas da Secretaria está o “Torcida Legal”, com medidas voltadas para a segurança e conforto do torcedor. No site do ME está descrito que o programa busca soluções para promover a paz nos estádios.

Acredito que muitos ''secretariados'' lotados nessa Secretaria tenham comparecido ao jogo. Mas, podem ter entrado por outros portões, talvez da área VIP, do lado oposto ao estacionamento fotografado. Essas “autoridades” não devem ter visto tais restos de desmontagem.

É bem capaz que também estivessem no estádio alguns membros das diversas comissões parlamentares que discutem o futebol brasileiro. Diversas?

Pois bem, além das comissões de esporte da Câmara e do Senado, foram criadas uma Subcomissão Permanente do Futebol Brasileiro e uma Comissão Mista que discute a MP 671, que busca entender e talvez perdoar as dívidas dos times. Aliás, na semana passada, na Comissão de Esporte da Câmara, foi debatida a “subutilização dos estádios da Copa”.

Em relação ao estádio fotografado, o secretário de turismo do DF, Jaime Recena, anunciou que já são 50 (enfatizo, cinquenta) eventos confirmados para 2015, “entre jogos de futebol e eventos culturais”.

Sempre afirmaram que tal arena seria ''multiuso''. Ledo engano. Multiuso é apenas o estacionamento. Já que realizar shows ''lá dentro'' é muito caro. Durante os dias úteis, o estacionamento é usado por ônibus que deveriam ser recolhidos às garagens dos concessionários do transporte público do DF. Mas, para economizar, centenas deles ficam parados, antes do horário de pico.

Bilheteria

Aliás, caro foi o estádio. O mais caro de todos os tempos. Quase R$ 2 bilhões !!! E vejam que gracinha (me desculpa Hebe Camargo) a bilheteria do Mané Garrincha são containers afastados, já que ninguém pode chegar perto do Mamute Albino.

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Absurdo!! Aqui não culpo o projeto do arquiteto –  ou devo culpar? Acho que não. Eles nem previam que diversas secretarias do governo do DF utilizariam o estádio como sede.

Para finalizar: meus amigos do Ministério do Esporte, das comissões e subcomissões do Congresso Nacional, mexam suas bundas, antes que outras tragédias aconteçam.

Walter Guimarães é jornalista, mas aqui escreve como alguém preocupado com a vida dos torcedores