Blog do José Cruz

Arquivo : fevereiro 2014

Rio 2016: palavra de general
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José Cruz

Numa conversa de 40 minutos, o presidente da APO (Autoridade Pública Olímpica), general Fernando Azevedo e Silva, assim sintetizou a preparação dos Jogos Rio 2016: “Será um evento enxuto e sem luxo. A ordem é gastar o menos possível”.

Será? Afinal, do lado do Comitê Organizador dos Jogos está um senhor especialista em gastos públicos, Carlos Arthur Nuzman. Vamos ver.  

Com a experiência de 40 anos no setor esportivo, tanto como atleta quanto como gestor, o general demonstra em todas as respostas segurança no comando da gigantesca missão inédita no Brasil.

Ao contrário de outras iniciativas, a confiança da presidente Dilma ao trocar a presidência da APO não foi para um político, mas um militar que conhece o ramo e é formado na escola do planejamento. Afinal, os investimentos para os Jogos Rio 2016 também influenciarão na economia, de rumos incertos e preocupantes, que vão nortear o debate da campanha presidencial que se aproxima.   

As mudanças que o general promoveu na equipe da APO, trocando indicados políticos por especialistas que trabalharam na organização dos Jogos Mundiais Militares, já demonstra novos rumos nesse consórcio formado pelos governos federais, do estado e do município do Rio de Janeiro.

Porém, outra questão foge do comando da APO: enquanto há rigor no controle dos gastos para a preparação da sede olímpica e paraolímpica, em que nível está o planejamento de governo para o uso dessas estruturas no pós-evento, a fim de que não se repitam os desperdícios do Pan, quando até instalações foram demolidas?

Na prática, entre 2007 e hoje não tivemos iniciativas integradas para a implantação de políticas públicas de esporte e para a ocupação integral das instalações construídas.

O “fantasma do Pan 2007” – que ainda dá trabalho a auditores  e ministros do TCU –  e os “dramas” dos prazos e gastos excessivos para organizar a Copa do Mundo demonstram como buscamos fora de época os megaeventos esportivos. Agimos na contramão do plano ideal. A ociosidade nas áreas esportivas e a preparação apressada de atletas para 2016 são indícios dessas medidas tomadas sem planejamento e metas.

Resta confiar no general para salvar a olímpica missão.


O futebol em tempos de fogos de artifício
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José Cruz

Logo no segundo dia da reabertura do Congresso Nacional, na quarta-feira, reuniram-se os deputados da Comissão Especial que debate sobre o projeto de lei do Profote, envolvendo dívida fiscal dos clubes de futebol.

A turma está com pressa para votar o projeto que, em resumo, anistia 90% do calote de R$ 4 bilhões, segundo o Ministério do Esporte, como já escrevi neste espaço.

Surpreende que os deputados não tenham qualquer receio – nem falo em “pudor” –  de tratar desse assunto, uma semana depois de se saber que o rombo na Previdência social saltou de R$ 42 bilhões, em 2012, para R$ 50 bilhões em 2013. E aí está embutida a divida promovida pela cartolagem, ao longo dos anos.

Na quarta-feira, o deputado Jovair Arantes, do Atlético Goianense, teve a coragem de criticar a imprensa que cobre esse assunto, como se ele e tantos outros deputados tivessem isenção nesse tema, pois legislam em causa própria. Abuso de poder ou falta de ética?

Essa é a questão: além da esdrúxula proposta de perdão de dívida fiscal, quem está discutindo, defendendo e votando o projeto de lei são cartolas, donos de clubes, ou representantes disfarçados dessas instituições suspeitas em suas contas!

Novidade

A novidade nessa Comissão foi o pedido do deputado Romário: afinal, qual é o valor total da dívida? Porque, até agora, não se tem esse valor. O Ministério do Esporte já disse que é em torno de R$ 4 bilhões. Certo é que o passivo com a Receita e INSS bate em R$ 2,8 bilhões. Falta o FGTS.

Finalmente

Torcedores apaixonados não gostam de ler críticas contra seus clubes, mesmo quando o prejuízo está prestes a bater em seus bolsos. Sempre foi assim, e ontem voltei a ser apedrejado quando escrevi sobre a confusa obra no estádio do Atlético do Paraná.

O pau quebrou no debate, mas enquanto muitos preferem criticar a imprensa a enxergar a realidade dos cartolas, a festa evolui por conta do dinheiro público, do contribuinte, por extensão.

Mais uma vez, obrigado aos companheiros da Editoria de Esportes do jornal Gazeta do Povo pelas informações atualizadas. Estamos juntos nessa empreitada para denunciar mais um abuso da cartolagem esperta.

Em frente. Mas desviando, também, dos fogos de artifício… enquanto torço pela recuperação do companheiro Santiago Andrade, cinegrafista atingido por um rojão, em manifestação no Rio de Janeiro. O abuso é dos poderosos, mas o alvo é a imprensa.


A conturbada reforma da Arena da Baixada
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José Cruz

Numa rápida visita a Curitiba visitei os companheiros da editoria de Esporte do jornal Gazeta do Povo, o principal do Paraná.

Liderados pelo editor Sandro Gabardo, eles me deram uma aula sobre a conturbada obra do estádio do Atlético, para a Copa do Mundo. O mais recente orçamento da Arena registra R$ 65 milhões descobertos.   

Prefeitura de Curitiba e Governo do Paraná entraram em campo e discutem quem vai financiar  essa grana, para que a capital paranaense não fique fora da Copa do Mundo.

Com interesses políticos, o poder público sai em socorro da iniciativa privada, do futebol, no caso, instituição de emoções e outro tanto corrupção comprovada. Orçada, no início, em R$ 90 milhões, a reforma da Arena custará R$ 330 milhões. Sabem quem vai pagar essa conta? 


Pizzolato esporte & marketing
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José Cruz

A prisão do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, ontem, na Itália, sugere mais um capítulo sobre as relações do Estado com o esporte.

Como se sabe, o Banco do Brasil é parceiro histórico da Confederação Brasileira de Vôlei. Assim como os Correios sustentam a natação, a Caixa o atletismo e por aí vai.

Porém, os valores e compromissos dessas parcerias nem sempre têm divulgação aberta por questão de “mercado”, para dificultar a reação dos concorrentes. Também ficam escondidos os compromissos das partes que assinam os contratos. E sem clareza no uso da grana pública sobram dúvidas e suspeitas. Afinal, o dinheiro vai todo para o esporte ou parte dele fica pelo caminho para, digamos, “acertos” ou “agrados”, como ocorreu no “caso Pizzolato”?

Como se sabe, Pizzolato foi condenado a 12 anos e sete meses de prisão por crimes de peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no processo do mensalão Agora, viajava com o passaporte falso!

Segundo o processo no Supremo Tribunal Federal, Pizzolato repassava dinheiro de marketing do Banco do Brasil para a empresa de Marcos Valério, operador do mensalão, e recebia um “agrado” em sua conta corrente…  Ele era o homem forte do marketing do banco; dava a palavra final sobre valores dos contratos, inclusive os negociados por Ary Graça, então presidente da Confederação Brasileira de Vôlei. Estaria o esporte também sendo objeto dessa corrupção? ainda não se sabe.

Enfim, no país do futebol onde algumas gestões já se revelaram corruptas, parcerias de marketing olímpico podem esconder, muitas vezes, maracutaias que avançam sem-cerimônia, aproveitando a emoção que o esporte oferece para desviar a discussão.

E num país em que a corrupção está institucionalizada, isso deve exigir atenção em dobro da CGU e do TCU em todas as estatais que financiam o esporte: Caixa, Petrobras, Infraero, Eletrobras, Correios e o próprio Banco do Brasil, que tem no vôlei de quadra e de praia um belo caso de marketing vitorioso e em Pizzolato um triste exemplo de corrupção institucional.

Bomba

Na semana passada publiquei sobre o tempo quente na Confederação de Vôlei, com muita gente questionando sobre a gestão do ex-presidente, Ary Graça, hoje na Federação Internacional da modalidade. Ainda coleciono informações. Ontem ocorreu mais uma reunião na Confederação para discutir sobre os rumos desse assunto, que domina o interesse da comunidade do vôlei brasileiro.


A energia pode cair. O padrão Fifa não!
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José Cruz

Foram frágeis as explicações do governo sobre o apagão de terça-feira, que deixou 11 estados na escuridão. Especialistas dizem que isso pode se repetir.

Há um mês, a maioria das cidades gaúchas, Porto Alegre, inclusive, passava boa parte do dia sem energia. Com calor de até 38 graus. Prejuízos enormes no comércio, falta d´ água, elevadores… hospitais… enfim.

Nessa ocasião o “fenômeno” ocorreu em outros estados, mas o ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, afimrou: “O risco é zero” – referindo-se ao desabastecimento de energia.

Edson Lobão está no governo desde 1970, por aí. Haja energia!

Esportes

Mas não se preocupem, pois estes problemas não atingirão os jogos da Copa do Mundo. Potentes geradores serão instalados do lado de fora de cada estádio. Exigência da Fifa. A energia pode cair, o “padrão” Fifa não!

Memória …

… o estádio do Pan-2007, o Engenhão, está fechado para reformas e assim ficará durante a Copa. Nem pra campo de treino!

… o Ladetec, laboratório  no Rio de Janeiro para exames antidoping perdeu o credenciamento da Agência Mundial.

… os exames antidoping da Copa do Mundo no Brasil serão realizados na Suíça.

… a raia oficial das regatas de vela dos Jogos Rio 2016 continua poluída.

… a Confederação de Basquete pagou R$ 3 milhões por uma vaga ao Mundial.

… a Bolsa Atleta, para competidores treinarem, continua atrasada.

… o estádio de Atletismo do Maracanã está abandonado, a dois anos dos Jogos no Rio

…  os cartolas agora podem receber salários. O dinheiro público (nosso) garante a mesada dessa turma, que trabalha pra caramba!

Que tal?


De que riem os poderosos?
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José Cruz

Texto inspirado na poesia de Affonso Romano de Sant´Anna, escrito na transição do regime militar para a democracia, mas que se adapta, 50 anos depois, à ditadura dos cartolas, agora com direito a salários pagos com verbas públicas 

Em 18 de fevereiro o Comitê Olímpico Brasileiro realizará assembleia para atualizar seu estatuto à nova legislação, que permite apenas uma reeleição das diretorias de instituições do esporte. Imagino que Carlos Nuzman e a cartolagem estejam rindo barbaridade!

Tarde, desgraçadamente tarde, chega essa mudança que soa como “avanço”. O estrago está feito, senhores, e no bom português o buraco, há muito, é mais embaixo, e é aí que esses demolidores atuam sem constrangimento.

Riem os poderosos porque fizeram gato e sapato em suas gestões. “Gato” no bom sentido, claro! Mas o que construíram, principalmente nos últimos 10 anos, quando tivemos um Ministério exclusivo para o esporte? Destruíram, antes, como fizeram com o Velódromo do Pan. E o que dizer do Engenhão, estádio de sete anos mas já fechado para reformas em plena Copa do Mundo?

Assim, esses senhores zombaram irônica e debochadamente dos ministros do Esporte de ontem e de hoje. Foram cúmplices da irresponsabilidade por nãotermos um plano e esporte para o país. Mas Nuzman sempre agradou essa gente com placas de prata enormes, textos brilhantes e aplausos de numerosas plateias.

Com esses brindes de ocasião, o eterno presidente do COB domina ministros e assessores. Mudar o estatuto nada mais é do que incentivar o riso largo, pois os problemas são outros e muito mais graves. Corrupção, por exemplo. E quem combate essa praga?

Vejam o caso do basquete. Eliminado da seletiva para o Mundial, o presidente da CBB, Carlos Nunes, pagará R$ 3 milhões pelo “convite”! Convite ou compra de vaga?

E de onde sairá essa grana? Não esquecendo que se trata de uma confederação que já foi acionada judicialmente para pagar suas contas. Mesmo com essa “folha exemplar” arrancou R$ 13 milhões do Ministério do Esporte. Sinceramente, mas não é um bom motivo para que os poderosos continuem rindo?

E o que dizer do presidente da Confederação de Tênis, que desviou R$ 400 mil de um convênio público e enfiou notas fiscais frias na prestação de contas? Até hoje não se sabe quem ficou com essa grana, mas o distinto senhor está aí e vai se candidatar a mais oito anos de mandato e, como os demais, com salário garantido saindo dos cofres públicos.

E qual a liderança esportiva nacional enfrenta esses senhores do sorriso largo? Formamos atletas capazes de se indignarem com os abusos do poder e reagir diante do deboche olímpico? Ou silenciaram na expectativa do pagamento da próxima bolsa?

Por tudo isso, transcrevo os primeiros versos de uma exemplar poesia de Affonso Romano de Sant´Anna, escrita na transição do regime militar para o democrático, mas que se adapta à ditadura da gestão do esporte. Diz assim:

“De que riem os poderosos?

Tão gordos e melosos?

Tão cientes e ociosos?

Tão eternos e onerosos?

Porque riem atrozes

Como olímpicos algozes,

Enfiando em nossos tímpanos

Seus alaridos e vozes?

Leia a poesia completa, vale a pena e tem tudo a ver com o momento do nosso esporte

 

Para entender mais sobre o mandato dos cartolas sugiro a leitura do texto escrito pelo advogado Alberto Murray Neto. Aqui


Romário quer valor oficial da dívida dos clubes para com Banco Central
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José Cruz

Já na abertura da sessão legislativa de 2014, hoje em Brasília, o deputado Romário (PSB/RJ), encaminhará requerimento de informações para que o governo informe qual, de fato, a dívida dos clubes de futebol para com os cofres públicos.

Integrante da Comissão Especial do Proforte, que analisa projeto de lei para anistiar dívida fiscal do futebol, em torno de R$ 4 bilhões, Romário se surpreendeu com a notícia de que o Banco Central do Brasil, além do INSS e Receita Federal, é credor de cerca de R$ 107 milhões de “multas de ilícito”.

A dívida decorre do fechamento do câmbio por ocasião da transação de jogadores. O Paraná Clube, com R$ 30,9 milhões, o Internacional, com R$ 19,2 milhões e o vasco, com R$ 11,3 milhões são os três principais devedores, segundo notícia divulgada ontem na imprensa paulista.

“Desde o ano passado uma Comissão Especial debate sobre a dívida dos clubes de futebol para com o governo, mas até agora, não sabemos, efetivamente, qual o tamanho dessa conta, qual o valor exato”, disse o deputado em contato com o blog. “Já recebemos os valores do INSS e Receita Federal, em torno de R$ 4 bilhões, e quando se pensa que é só isso surgem novos débitos”.

Segundo o deputado, o Legislativo tem a obrigação de saber sobre os fatos reais para que possa debater um projeto de lei, como o do Proforte, que troca a dívida fiscal por prestação de serviços dos clubes.  “Não é possível que vez por outra surjam informações que nos surpreendam, como essa, agora, do Banco Central”, disse Romário.

Fundo de Garantia

Na penúltima reunião da Comissão Especial do Proforte, em 2013, o deputado já havia pedido informações também sobre a dívida dos clubes para com o FGTS, que até então não estava na pauta de debates dos deputados.

“Lembro que um dos convidados que esteve na Comissão nos alertou sobre a dívida dos clubes para com o Banco Central. Agora sabemos que esse débito é real e já está sendo cobrado na Justiça. Portanto, precisamos conhecer a realidade e os valores oficiais para se discutir com base em fatos concretos e não fictícios”, disse Romário.

O presidente da Comissão Especial do Proforte é o deputado Jovair Arantes, do PTB de Goiás, ligado ao Atlético Goianense, que já teve Carlinhos Cachoeira como um de seus homens fortes. Já o deputado Vicente Cândido, PT/SP, também vice-presidente da Federação Paulista de Futebol, integra a Comissão, entre outros parlamentares intimamente vinculados a clubes de futebol devedores ao fisco.

Agenda

A primeira reunião da Comissão Especial do Proforte será na quarta-feira. Saiba aqui os detalhes sobre os trabalhos da Comissão.


No DF, o governo está contra a parede. Imagina na Copa…
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José Cruz

Em seis de dezembro do ano passado publiquei esta mensagem-ameaça da PM do Distrito Federal, feita numa assembléia da categoria:

“Se a Policia Militar não for contemplada como os outros órgãos da segurança pública, o troco vem na Copa do Mundo”.

Agora, um mês depois, o governador está de joelhos diante da tropa que, ao desenvolver operação tartaruga,  fortalece a ação da bandidagem e incentiva o crescimento da criminalidade em Brasília. Foram 50 assassinatos em um mês, crescimento de 40% sobre janeiro de 2013.

Os empresários decidiram fechar as portas de suas empresas às 20h. Não há mais policiais nas ruas. Um só posto de combustíveis foi assaltado seis vezes em uma semana. Donos de restaurantes tentam resolver o problema oferecendo “quentinhas” às patrulhas que, só assim, reforçam uma determinada quadra comercial da cidade.

Agnelo Queiroz fez promessas absurdas para se eleger governador e não cumpriu. A tropa está respondendo e a população está pagando a conta, com a própria vida, inclusive.

É assim que a capital da República se prepara para receber sete jogos pela Copa do Mundo.

Repriso a sonora da assembleia dos policiais, em dezembro, com a ameaça ao governo, para que o leitor tenha ideia de como o governador perdeu a autoridade, está contra a parede e envergonha o país.

Confira: http://edsonsombra.com.br/post/o-gdf-e-a-crise-da-quebra-de-hierarquia#.UqIpv9JmN1A.twitter