Blog do José Cruz

CBF aceita “invasão estrangeira”

José Cruz

CBF autoriza o aumento de três para cinco jogadores estrangeiros por jogo nas competições nacionais a partir do ano que vem

Por Cássio Cruz

Profissionais do desporto brasileiro estão criticando a alteração no regulamento das competições da CBF, que aumentará o número de estrangeiros possíveis de serem utilizados nas partidas. A principal justificativa para as críticas é que esta decisão desvaloriza o jogador jovem brasileiro, pois diminui as oportunidades de atuarem nas equipes profissionais.

Assim também é o entendimento da maioria dos sindicatos, como o Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo (SAPESP), o Sindicato dos Atletas de Futebol do Rio de Janeiro (SAFERJ), o Sindicato dos Atletas Profissionais do Rio Grande do Sul e a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol, como já veiculado pela imprensa.

A medida fora adotada por conta do pedido formal apresentado pelo Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, em nome do influente Presidente Fábio Koff. Ainda que fora tão somente declarada tal alteração, certamente valerá para o ano de 2014, em que ocorrerá a Copa do Mundo no Brasil.

Discordei, com o maior respeito, de quase todos os posicionamentos que alegam a diminuição de oportunidades para os jovens atletas brasileiros.

Não é limitando ou proibindo estrangeiros de atuarem no futebol brasileiro que teremos maiores oportunidades para os atletas das categorias de base.

Na verdade, este entendimento apenas tapa os furos e o descaso com as categorias de base dos clubes brasileiros. E isso por conta de clubes e também da CBF.

Não digo propositalmente por quem alega, longe disto. Até porque muitos profissionais de caráter e respeito estão tratando a matéria da mesma forma. Digo que tapa os furos, porque se sabe que no Brasil não há fortes investimentos, transparência nos trabalhos com os jovens atletas e principalmente qualificação profissional.

Ainda que o futebol seja o esporte mais popular e com maior giro econômico no País, infelizmente peca por esse lado. Talvez, o entendimento da maioria que se posicionou contra a alteração promovida pela CBF, se dá por conta do vício que, nós brasileiros, temos em sempre procurarmos a forma mais rápida de solucionar algo que poderá se tornar problema. E isto, justamente por sabermos que os trabalhos realizados no “coração” do futebol brasileiro, que são as categorias de base, seguirão sem maiores evoluções.

Alguns planejamentos podem ser realizados para a valorização dos jovens atletas brasileiros, sem que seja necessária a proibição ou algum tipo de limitação à atuação de estrangeiros no País, tais quais:

1. Se a CBF, como algumas associações nacionais européias já fazem, alterasse o regulamento para que ordenasse limitadamente na relação de cada partida (contanto os jogadores reservas) válida pelos campeonatos nacionais em, no mínimo, 3 (três) atletas oriundos das categorias de base do clube, obrigariam os clubes a qualificarem mais seus jovens atletas.

2. Se a CBF trabalhasse, com interesse, conjuntamente aos representantes do Poder Legislativo para a criação de determinados projetos de leis, que, se aprovados, determinassem um percentual mínimo e respeitável, em cima de determinadas receitas passíveis desta obrigatoriedade, para investimentos nas camadas jovens do futebol, teríamos maior qualidade nos jovens profissionais.

3. Se já tivéssemos leis de responsabilidade dos dirigentes desportivos, o lado profissional do futebol já seria tratado com maior transparência e seriedade.

4. Se os clubes trabalhassem de acordo ao que oferece a Lei 11.438 (Lei de Incentivo ao Esporte), também haveria maior valorização e qualificação dos jovens atletas.

5. Se os clubes trabalhassem para a qualificação dos jovens atletas ao invés de trabalharem para a conquista de títulos em competições de base, o crescimento qualitativo destes atletas faria, por si só, com que houvesse maior aproveitamento.

O Brasil não está revelando um número menor de jogadores, se compararmos com alguns anos passados, por acaso.

Limitando o número de estrangeiros no futebol brasileiro, estaríamos desperdiçando grandes jogadores, o que eu acharia uma péssima ideia, pois há muito talento no futebol da América do Sul. E estes, certamente cabem aqui no nosso futebol nacional.

Cássio Cruz trabalha na área jurídica e se especializa em Direito Desportivo