Blog do José Cruz

Nado sincronizado: a coragem das atletas

José Cruz

Atletas da natação olímpica e maratona aquática treinam em Brasília até sábado. As demais modalidades da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), nado sincronizado, saltos ornamentais e polo aquático, estão fora da clínica porque têm poucas chances de finais nos Jogos Olímpicos Rio 2016, conforme decidiram o Ministério do Esporte e a confederação.

Entrevista

A propósito, é oportuno ler a entrevista da dupla brasileira de nado sincronizado, Nayara Figueira e Lara Teixeira, ao site “Esporte Essencial”. Fica claro como o planejamento de longo prazo de nosso esporte ainda é frágil. Especificamente para 2016 é um planejamento emergencial.

A dupla foi 13ª colocada nos Jogos Olímpicos de Londres e está fora do programa Brasil Medalha 2016, elaborado pelo Ministério do Esporte com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA).

O programa consiste em injetar R$ 1 bilhão na preparação de atletas que tenham chances de disputar finais nos Jogos OIímpicos Rio 2016.

Selecionei  dois momentos da entrevista ao Esporte Essencial, mas sugiro a leitura integral da reportagem, aqui.

Esporte Essencial: Na opinião de vocês, o que falta para o Brasil evoluir mais no nado sincronizado?

Nayara Figueira: Primeiramente, eu acho que está faltando muito planejamento a longo prazo. A CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) depende do patrocínio dos Correios, então é complicado de saber em quais competições a gente vai conseguir competir no ano. Porque, para nós, atletas, quanto mais competições a gente participar, melhor. E também acredito que tinha que ter muito mais clínicas. As atletas brasileiras tinham que ir para fora, treinar com outras técnicas em outros países, e também trazer gente de fora para dar mais treinos aqui no Brasil. Isso aconteceu ano passado, a Leslie Sproule veio treinar a gente e nós crescemos muito com ela. Então, eu vi que esse é o caminho, mas infelizmente isso não é feito com frequência.

Lara Teixeira: Eu acredito que nós precisamos achar um pouco a linha de trabalho. Eu costumo pensar um pouco diferente do que a CBDA tenta fazer. Porque eles trazem num ano uma técnica canadense, depois uma russa, então nós atletas ficamos um pouco perdidas em relação a que linha a gente tem que trabalhar. Eu acho que o Brasil tem que, aos poucos, construir uma linha de trabalho mais forte, especificamente para o país, não tentar atirar para todos os lados. E também falta um pouco de planejamento. Como administradora, eu sempre penso que o planejamento e a gestão do esporte por trás das atletas é essencial para o resultado. Eu sempre cito o vôlei, que também não tinha estrutura nenhuma no Brasil e, aos poucos, com planejamento sério, foi alcançando resultados e é uma Confederação super bem estruturada, com títulos, ídolos e tudo o mais. Então, eu acho que nós precisamos trabalhar nesse sentido, porque existem muitas meninas novas que tem muito talento e às vezes são desperdiçadas por essa falta de planejamento.

Com licença das entrevistadas, lembro o judô, que há bom tempo faz planejamento de longo prazo e com frequente participação da equipe principal e juvenil em eventos internacionais, justamente onde estão os principais adversários de Mundiais e olimpíadas, com vistas à renovação das equipes principais.

Finalmente:

É raro vermos manifestação de atletas com tanta clareza e objetividade. A maioria se omite com medo de represálias dos cartolas, reais. Parabéns a Nayara e Lara pela contribuição que deram a esse debate, ainda limitado às autoridades e, por isso, possível de falhas.