Blog do José Cruz

A ditadura dos cartolas: democracia ao largo do esporte

José Cruz

Os cartolas do nosso esporte se perpetuam pelo medo que impõem e silenciando os que tentam se opor, como acontecia na ditadura militar, cujas lembranças ainda  provocam arrepios.

Carlos Ayres Brito completará 70 anos no domingo. Por lei, chegou à idade limite para continuar no Supremo Tribunal Federal.

Ele saiu num momento histórico, em que a Corte dá lição de independência entre os poderes da República.

O Supremo está mudando a cultura do país”, disse Ayres Brito.

Projeto este momento imundo da política brasileira, cujos trapos são lavados em vários processos do Mensalão – e virão outros, da era das privatizações de FHC! –  no nosso não menos esfarrapado esporte profissional.

Observem que a democracia é praticada em todos os escalões, a partir da proibição de tripla eleição para a Presidência da República, passando pela limitação de idade na corte maior, o STF.

Menos em um segmento a Senhora Democracia é desprezada, enxotada, ignorada escancaradamente: no esporte brasileiro.

O caso de Jorge Rosa que permitiu alterações no estatuto da Confederação de Tênis em benefício próprio é o mais vergonhoso e nojento que já vi em 40 anos de repórter.

E o exemplo mais recente é o de Coaracy Nunes, que tenta sua quinta ou sexta eleição consecutiva para a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). Emplacará quase três décadas de comando.

Não são comparações grosseiras entre a saída de Ayres Brito e as prepotentes perpetuações de Jorge Rosa e Coaracy Nunes, entre outros.

Não! São, antes, comportamentos extremos do homem político, da educação política, do respeito à disputa democrática.

E falta isso ao gestor do esporte. Talvez porque nessa atividade o dinheiro, público, chegue fácil e seja gasto com outro tanto de facilidades.

A ditadura da cartolagem torna-se duradoura porque o domínio começa pelo extremismo dos estatutos, exigindo apoios mínimos para lançamento de candidaturas.

Constitucionalmente, o legal seria aceitar candidatos independentemente de apoios.

Mas ao fixar tal exigência o cartola anuncia que saberá quem o desconsiderou para apoiar outro candidato. E começa a retaliação.

Com esta prática a vitória está garantida. Conquistam o poder pelo medo e silenciando os que tentam se opor, como acontecia na ditadura militar, cujas lembranças ainda nos provocam arrepios.

A ditadura do cartola perpetua-se exatamente assim. E tudo financiado pelo dinheiro que sai do cofre da União, isto é, dinheiro do contribuinte.

Indiretamente estamos financiando ditadores.

Assim, pelo medo que impõe e o cheque que dispõe, o cartola  governa pelo tempo que desejar.

Até porque, covardes e servis eleitores oferecem apoio proporcional  aos valores liberados para seus projetos.

Mas a falta de transparência nesse “é dando que se recebe” torna a prática eleitoral esportiva em negócio nebuloso, suspeito e ignorado pelo poder financiador, o governo federal.