Blog do José Cruz

Arquivo : dezembro 2011

Ministério do Esporte: o balanço real
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José Cruz

Atento às publicações diárias, o jornalista Paulo Rossi telefonou para me alertar sobre a recente mensagem neste blog, analisando o balanço do ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Rossi é um dos assessores do Ministério do Esporte.
Pacientemente, ele explicou que a fonte que usei – “Portal da Copa” – faz a cobertura especificamente sob esse enfoque, o Mundial de 2014. 
Daí, a limitação das informações ao assunto, que até me assustou
Portanto – e para corrigir minha falha – aí vai o link para os demais assuntos da entrevista de Aldo Rebelo, sobre os quais comentarei mais tarde. 
http://www.esporte.gov.br/ascom/noticiaDetalhe.jsp?idnoticia=7954


Ministério do Esporte: balanço sem novidades
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José Cruz

Em viagem ao Sul, fiquei longe da entrevista do ministro Aldo Rebelo, quando apresentou balanço de 2011, hoje à tarde, em Brasília.

Para escrever este artigo tomei por base a reportagem de Gabriel Fialho e  Tiago Falqueiro – Portal da Copa, do Ministério do Esporte. E observei que o ministro se fixou no assunto maior, o Mundial de Futebol.

Sobre isso, mantenho a opinião de que o governo federal deveria ter um Comitê da Copa independente do Ministério do Esporte.

É um evento grandioso, bilionário, de enormes responsabilidades sócio-econômicas-governamentais, que não comportam dividir espaço com os já complicadíssimos programas e problemas do nosso esporte em geral.

Exemplo

Para a Copa, deveríamos ter algo como o consórcio da Autoridade Pública Olímpica, gerenciada pelos governos federal, do Estado do Rio e da cidade do Rio de Janeiro. Com isso, o ministro do Esporte ficaria liberado para cuidar dos assuntos paralelos e, quem sabe, dotar o país de uma prioritária política de esportes.

Sobre a situação das obras, em geral, prefiro aguardar o próximo relatório do Tribunal de Contas da União.

Enquanto isso…

O governo não cumpriu sua parte no acordo com a Fifa, de oferecer a Lei Geral da Copa no prazo estabelecido.

O documento emperrou na Câmara e ainda vai ao Senado. E se o texto for alterado no Senado terá que voltar à Câmara para, só depois, ir à sanção presidencial.

Quem sabe, a Lei Geral ficará pronta no final de 2012, vésperas da Copa das Confederações. Planejamento no Brasil é assim mesmo…

Insisto:

P or mais esdrúxula que seja a tal Lei Geral da Copa; por mais exigente, extravagante, agressiva à soberania nacional ou à legislação brasileira, enfim, nada foi surpresa ao governo brasileiro. Ao candidatar o país à sede da Copa o governo federal assumia, paralelamente, o compromisso de abrir mão de leis e normas internas para respeitar as regras impostas pela senhora Fifa.  

Porque, tão exigente quanto à Lei da Copa é o Ato Olímpico, para os Jogos Rio 2016.  E o documento foi aprovado por deputados e senadores sem contestações. Agora, fazem jogo duro. Estranho!

Falta

No balanço ministerial senti falta de algumas informações importantes. Por exemplo, para que serve – ou que trabalho realiza – o Consórcio Copa, empresa paulista que não presta informações à imprensa, mas que já faturou R$ 24 milhões dos cofres públicos? Pior: nem portal possui para divulgar seus atos.

Como já divulguei neste espaço, oConsórcio Copa foi criado em 2009 especificamente para prestar serviços ao Ministério do Esporte. E do contrato original de R$ 13,2 milhões saltou para R$ 24milhões em um ano. Pra quê?

Logo, um balanço do “Consórcio” seria muito oportuno neste final de ano, além das revelações sobre as obras dos estádios, que são públicas e diárias.

Finalmente:

Há três anos, a Lei de Incentivo ao Esporte aprovou autorizou à Federação Paulista de Hipismo captar R$ 6,5 milhões para o projeto “desenvolvimento do hipismo brasileiro”.

Com tanto dinheiro imagino que poderemos ter equipe altamente competitiva para 2016. Mas até hoje não consegui ver o tal projeto, apesar dos insistentes pedidos ao Ministério do Esporte que tem – é bom lembrar – a obrigação de dar divulgação desses dados. Mas não!  A pasta do ministro Aldo Rebelo esconde os dados, o que torna este projeto de suspeição máxima e, por isso, um bom prato para auditores do TCU ou da CGU.

Tenho dados extra-oficiais sobre este assunto, que ainda estou conferindo. Breve vou apresentá-los aqui.


Homenagem a João Bosco
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José Cruz

O jornalista João Bosco, editor de Arte do Correio Braziliense, morreu nesta madrugada, aos 47 anos.

Há poucos dias, ele havia recebido o segundo Prêmio Esso de sua carreira, categoria Primeira Página.

Flamenguista, amigo e bom caráter, ele diagramou várias reportagens que publiquei.

E é com uma delas, sobre o bicampeão mundial, Nilton Santos, que presto minha homenagem ao Amigo Bosco.

A reportagem

Foi uma “viagem” inesquecível, do Flamengo, onde morava, ao Maracanã. Em uma hora e pouco, acompanhei a trajetória do bicampeão mundial, Nilton Santos, que diariamente ia ao “Templo Sagrado” do futebol mundial. Lá, ele conversava com jornalistas e, principalmente, turistas que visitavam o estádio.

A reportagem, em 2004, foi sugerida por Carlos Marcelo, um botafoguense companheiro de Redação do Correio Braziliense. Nilton estava com 78 anos, mas caminhava com passos rápidos. No trajeto, era parado por fãs, sempre tratado com admiração e carinho, que pediam um autógrafo ou uma foto ao lado do grande ídolo brasileiro.

Confira no link

http://web.me.com/wrvg/BlogDoCruz/NiltonSantos.html


Timemania: o governo é bonzinho
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José Cruz

O Ministério do Esporte lançou um volumoso livro, espécie de balanço geral dos primeiros sete anos de sua existência – 2003 a 2010.

Bem produzido, com várias ilustrações e números, é documento oficial para comentar sobre alguns programas de governo na área do esporte.

Começo pela Timemania, a loteria que surgiu por iniciativa do então ministro Agnelo Queiroz – ainda hoje se explicando sobre denúncias de corrupção do suspeito programa Segundo Tempo (que comentarei outro dia).

Periodicamente insisto neste assunto da dívida, para que não sejamos acusados de “país sem memória”.

É preciso lembrar que a cartolagem de uma determinada época deu calote de R$ 2 bilhões no fisco.

Exatamente isso: recolhia os valores do INSS e Imposto de Renda de seus funcionários (a maioria jogadores) e não repassava aos cofres da União. O calote,repito, foi acrescido da dívida para com o Fundo de Garantia. Resultado: a conta chegou aos R$ 2 bilhões.

Para resolver o problema, o governo federal agiu de forma diferenciada. Em vez de exigir que os devedores saldassem a conta, como faz com os “contribuintes comuns”, lançou uma nova loteria esportiva, a Timemania.

Com isso, repassou ao torcedor-apostador o ônus da dívida que contraiu. Das apostas realizadas, 22% são destinados ao abatimento da conta. 

Balanço

Agora, no balanço do Ministério do Esporte, a tal Timemania mostra-se um fracasso.

Em três anos – entre 2008 e 2010 – a Timemania arrecadou R$ 311milhões. E contribuiu com apenas  R$ 68,4 milhões para abater nos R$ 2 bilhões devidos. A conta está sendo paga, é verdade, mas o calote continua bilionário.

Enquanto isso…

Observa-se tratamento diferenciado do governo diante de seus contribuintes em geral – e o futebol, em particular. Principalmente porque os clubes devedores não escondem suas transações milionárias com jogadores caríssimos e técnicos que assinam contratos nas alturas.

 Faço este comentário também motivado pelo recente seminário que tratou sobre como o futebol contribui para a lavagem de dinheiro, mundo afora.

No entanto, o mesmo governo – da época dos tucanos, que ignorou a dívida, e o de agora, que cobrou de forma benevolente – omite-se na fiscalização rigorosa da economia dos clubes, seus negócios aqui e lá fora.


O estranho jogo das excelências
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José Cruz

O adiamento da votação da Lei Geral da Copa, para 2012, pela Câmara dos Deputados, pode até parecer provocação à Fifa.

Apesar dos pontos polêmicos da referida lei, a retranca parlamentar transmite ao torcedor-eleitor a sensação de soberania do Legislativo, que não vota sob pressão.

Não é pressão. Por mais agressivas que sejam as exigências para a Copa 2014, o governo concordou acatá-las, desde 2007. Mas, agora, extrapola os prazos combinados e compromete o acordo a internacional.

O Congresso Nacional  não jogou assim – e deveria – quando aprovou o Ato Olímpico para os Jogos Rio 2016, que corresponde à Lei Geral da Copa para o Mundial de 2014.

E muitos dos parlamentares que hoje se opõem à lei da Fifa, em 2009 aprovaram o Ato Olímpico, com exigências tão graves e agressivas quanto à Lei Geral da Copa.

Por exemplo, o Ato Olímpico transfere ao governo federal a responsabilidade de cobrir os déficits operacionais do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016, sem fixar limites. Isso mesmo. Gasta-se, extrapola-se o orçamento e a conta vai para o Palácio do Planalto. Como nos Jogos Pan-Americanos de 2007.

E qual foi o deputado ou senador que bradou contra esta barbaridade? Muito estranho o jogo das excelências

                Leia o texto completo do Ato Olímpico


Não havia espaço para zebra
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José Cruz

Por Geraldo Hasse

Si, como no, 4 a 0 foi pouco. Neymar amarelou, Ganso entrou na roda, Edu Dracena estava tresnoitado e por aí se foi esse tosco Santos do Muricy, que nunca pareceu tão parvo.

Fuso horário? Frio? Grama sintética? Noites maldormidas em colchões orientais? Saudade da família? Pressão das “moscas torcedoras”? Assédio da marquetagem?

Há mil desculpas para a derrota, mas todas as adversidades eram previsíveis, a começar pela excelência do Barcelona,
que faz todo mundo de joão-bobo, mas em movimento rumo ao gol.

É inacreditável que uma equipe técnica milionária não tenha o antídoto para uma estratégia tão rasteira. Parecia que o Santos tinha sido
contratado como sparring.

A cada patacoada brasileira no exterior fica claro que o futebol canarinho abisonhou-se na dança dos milhões. As estrelas não correm atrás do prejuízo porque, para elas, não faz diferença perder ou ganhar. Seus salários são sagrados e, em último caso, taí a Justiça do Trabalho para lhes dar ganho de causa, justamente a eles que se tornaram parceiros-cúmplices das manifestações mais extremadas do Capital, como a
Lavagem de Dinheiro e outras jogadas.

O Brasil estás prestes a adaptar leis para agradar a Fifa, promotora da Copa do Mundo 2014, e não há quem ouse colocar o guizo no rabo do gatão.

Agora, voltar do Japão com quatro nas costas é como passar a noite num baile e não pegar ninguém. O time do Barcelona deu uma aula de futebol, disse Neymar logo após o jogo, com a tranquilidade de quem se adaptou perfeitamente ao chip de bom menino que passou
a usar nos últimos meses.

“Que a derrota sirva como lição”, disse ainda o novo prodígio da propaganda brasileira, mas quem acredita que as estrelas da Vila tenham tempo para calçar as chuteiras da humildade?

* P or uma TV a cabo vimos no final da tarde de sábado o GP Carlos Pellegrini, no hipódromo de San Izidro em Bs Aires. Vinte e três cavalos em 2.400 m. Na reta final, faltou meia cabeça para o brasileiro Veraneio alcançar o argentino Expressive Halo. Já sabíamos que não havia espaço para zebra.

Geraldo Hasse é jornalista gaúcho e colaborador deste blog


Cala a boca, Edson
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José Cruz

Excelente artigo na revista ESPN, deste mês

Por Caio Maia
Coloquemos a culpa no Edson, esta figura que habita o corpo que um dia foi de Pelé. Edson, agora, é “embaixador” da Copa do Mundo no Brasil, aquela que aconteceria sem dinheiro público. E que acontecerá quase que só com ele, uma boa parte indo parar nos bolsos errados.

É natural, porém, que Edson se empolgue com a possibilidade e ver no Brasil a competição que Pelé venceu três vezes, e cujo significado e simbolismo conhece tão bem. Se empolgar com a Copa, entretanto, é uma coisa, servir de escudo para Ricardo Teixeira, outra totalmente diversa. Até porque, Edson foi colocado neste papel justamente para que Teixeira parasse de bancar o imperador. Ninguém pediu a ele
que defendesse o cartola, nem isso faz qualquer bem à Copa 2014.

Quando diz que “nada foi provado contra Ricardo Teixeira”, Edson demonstra, além de subserviência, desconhecimento. Não conhece, pelo jeito, o Código Civil, que define como prova:  I – Confissão; II – documentos; III – testemunha; IV presunção; V – perícia. Ou seja, há numerosas e abundantes provas contra Ricardo Teixeira, ainda que ele não tenha sido condenado por causa delas.

Pelo menos, Edson não foi ao extremo de, como Ronaldo, dizer que não se faz Copa com hospital. O que, diga-se, é a mais pura verdade. Nem se faz hospital com Copa, apesar do que se quer fazer crer. Não se faz nada, aliás, com Copa, a não ser dinheiro para a meia dúzia de sempre. Mas teremos Copa, e continuaremos sem hospitais.

Pelé e Ronaldo, porém, ao parecem preocupados com isso. Fariam bem em pelo menos ficar quietos.

Caio Maia é diretor de Redação da ESPN Revista


Os negócios suspeitos do futebol e o apoio oficial
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José Cruz

Notícia extra-oficial: Depois de uma reunião com o ministro do Esporte, Aldo Rabelo, o secretário nacional de Futebol, Alcino Reis Rocha, teria apresentado o pedido de demissão “irrevogável”, me contaram.

Alcino era um dos remanescentes da turma do ex-ministro Orlando Silva. Foi ele que assinou o contrato com a Federação Paulista de Futebol, no polêmico episódio para cadastrar torcedores.

Pelo serviço, que não foi realizado, o Ministério do Esporte desembolsou R$ 6,5 milhões. Logo que assumiu, há 50 dias, o ministro Aldo Rebelo determinou a devolução da grana. Não sei se o dinheiro já retornou às origens.

Mustafá e Alcino, parceiros num negócio para cadastrar torcedores

Negócio privado

Independentemente da confirmação da saída de Alcino Reis, a questão principal é: qual o motivo para o Ministério do Esporte, um órgão do Poder Executivo Federal, se envolver com um negócio privado como o futebol? Um negócio suspeito de falcatruas milionárias? Um negócio que, explorando as emoções que oferece ao torcedor, aproveita-se para promover a lavagem de dinheiro, como foi mostrado em investigações da Polícia Federal?

O ministro Aldo Rebelo sabe muito bem o que é o bastidor dessa instituição bilionária. Ele presidiu a histórica CPI da CBF Nike , em 2001, e escreveu um livro contando sobre as trapaças que encontrou. À época, suas entrevistas eram indignadas, quando se referia às dezenas de irregularidades encontradas com as quebras de sigilo bancário e fiscal da CBF e de vários clubes.

Pois é essa instituição, suspeita de encobrir crimes financeiros, como relataram autoridades fiscais, recentemente, em Brasília, que o governo dá cobertura financeira. Primeiro, criando uma loteria – a Timemania – para que os clubes paguem o calote ao Imposto de Renda, INSS e Fundo de Garantia. A dívida supera os R$ 2 bilhões. Porém, entre 2008, quando começou a funcionar, e 2010, a Timemania repassou miseráveis R$ 68,4 milhões aos cofres públicos. A cartolagem ri à vontade.

Além disso, o Ministério do Esporte privilegia a instituição “futebol” com recursos públicos da Lei de Incentivo ao Esporte. Só em 2010 foram destinados R$ 29,7 milhões. Boa parte do dinheiro para os tais negócios suspeitos denunciados pelos fiscais do governo. Outro tanto vai para a formação de jogadores que, depois, são negociados no exterior, enriquecendo o bolso dos agentes internacionais. Em resumo, é o Estado financiando um negócio rentável e  altamente suspeito em sua legalidade.

O Brasil sagrou-se pentacampeão mundial sem que o Estado ou os governos se envolvessem com a gestão do futebol. Quando muito recepcionava os campeões no Palácio do Planalto. Agora, apóia um negócio que deveria ser fiscalizado por ele, Estado. Mas não é. Ao contrário, tornaram-se parceiros íntimos.


Onde andará Gabiru?
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José Cruz

No Correio Braziliense

Por Bernardo Scartezini

Será que o Muricy Ramalho tem conseguido conciliar o sono? Não me refiro ao fuso horário. Hoje é quinta-feira. A esta altura dos acontecimentos, quando você, incauto leitor, estiver a ler esta coluna, o time do Barcelona estará passando/terá passado a patrola sobre o Al Sadd, o desafortunado campeão catariano que lhe cruzou o caminho no Mundial de Clubes. Qualquer resultado diferente de um sacode do Barcelona pode ser encarado como uma hecatombe de proporções mazembísticas.

O que nos leva a Barcelona x Santos, jogo mais antecipado do ano como a final do Mundial. O campeão europeu chegando numa vibração diferente daquela do campeão sul-americano. Afinal, ainda no último sábado, o Barça esteve a bater o Real Madrid no Santiago Bernabéu. Uma vitória de virada que levou a equipe catalã à ponta do Campeonato Espanhol.

Já o Santos, cá entre nós, há quanto tempo não vinha levando a sério seus compromissos? No Brasil, temos a mania, um tanto por conta do calendário, um tanto por desleixo, de colocar o boi na sombra depois de vencer a Libertadores. Passar meses e meses por conta do Mundial de dezembro. O Santos fez figuração no Brasileiro-2011, fiando-se na glória conquistada.

Ou seja, enquanto o Santos passou à larga boa parte da temporada, o Barcelona vem babando. Pergunte ao Mourinho. Claro que, na hora H, a rapaziada santista vai correr atrás da pelota. Nem que seja por instinto de preservação. Mas será que o botão de liga/desliga é assim fácil de fazer funcionar? Será que o Barça não entrará naturalmente mais ligado na partida? Qual foi mesmo a última grande atuação do Santos?

Receio que estes últimos meses tenham aumentado um pouco mais o abismo que separa as equipes. O abismo que é também o abismo entre este Barcelona e os demais times do planeta. Pois o Barça é tudo isso que conhecemos — e também vai sempre um pouquinho além disso.

Gostamos de dar ênfase ao Messi, por ser tremendo craque, mas o Barça é todo um coletivo, uma engrenagem à perfeição. Iniesta y Xavi ganharam recentemente a companhia de Fábregas y Sánchez. O que era bom ficou melhor. A turma da frente não guarda posição, morde a saída adversária, gosta de ter a bola pra si, sabe manejá-la sem pressa, não erra passes. Um pouco mais atrás, uma troca de olhares entre Puyol, Piqué y Busquets é o suficiente para que mudem de lugar e façam o time assumir outra movimentação, outra formação. Sem que Guardiola precise trocar jogadores.

(Aos 42 minutos da segunda etapa, no Bernabéu, Daniel Alves abre como ponteiro e Puyol parte com a bola pela direita. O placar marca 3 x 1 — eles seguem atacando.)
Só não me pergunte como o Muricy vai fazer isso parar. Muricy, pela onda que tira e pelos cobres que recebe, deve saber mais do que eu. Talvez tenha falado sério ao dizer para seus jogadores se divertirem. Ou talvez monte uma retranca grossa lá atrás e fique esperando Neymar resolver. Eu não apostaria meus tostões nisso. Mas se deu certo pro Inter do Gabiru…

Bernardo Scartezini escreve às quintas-feiras no Super Esportes


Eu vejo o futuro repetir o passado
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José Cruz

Numa reunião histórica – pelo nível dos debatedores e importância dos temas abordados –, que reuniu algumas de nossas estrelas do olimpismo, a Comissão de Turismo e Esporte da Câmara dos Deputados expôs hoje os extremos do poder Legislativo: é a indispensável Casa para o debate das grandes questões brasileiras; mas está muito atrasada no encaminhamento das políticas para o esporte.

Sequência
As dificuldades enfrentadas por Aída dos Santos, quando foi a única mulher na delegação aos Jogos de Tóquio, 1964 (quarta colocada no salto em altura) continuam hoje, meio século depois, apesar das evoluções técnicas, independência feminina e expressivo volume de dinheiro aplicado no setor.
Passou o tempo, e os resultados das atletas olímpicas vieram e evoluíram, mais por insistência e persistência das mulheres do que por ações integradas de todos os agentes envolvidos, como família, clubes federações, governos etc.
Crescimento
A participação feminina em olimpíadas, por exemplo, revela a predominância de projetos para a categoria masculina.
“Dos 1.678 atletas que já representaram o Brasil em olimpíadas, apenas 390 foram mulheres”, disse a psicóloga e pesquisadora Katia Rubio, da Universidade de São Paulo.
“Porém, apesar desse distanciamento, a proporção das conquistas de medalhas – considerando o número de eventos que participaram – é favorável ao sexo feminino: 16% x 13%  dos homens.
Realidade
No contexto da formação e projeção de atletas, a representante do Ministério da Educação, Clélia Brandão, deu a dimensão da realidade da nossa precariedade em termos de políticas públicas para o setor:  apenas 56,7% das escolas brasileiras têm uma quadra esportiva. Pior: dessas, apenas 40,3% têm um professor de educação física à disposição dos alunos! Que tal?
Propostas
É neste panorama que Cássia Damiani, do Ministério do Esporte entrou no debate de hoje com propostas que demonstram como estamos perdidos, apesar de já sermos um país olímpico.
Na falta de uma política integrada de governo para ações pedagógicas-esportivas visando, prioritariamente, a formação cultural e do caráter dos jovens, e, em seguida, o alto rendimento, a pasta do ministro Aldo Rebelo anuncia que fortalecerá o futebol feminino, uma atividade ignorada pela CBF, porque não é rentável.
Sob o ponto de vista político, faz sentido, pois o futebol tem espetacular apelo. E, pelo abandono da mulheres futebolistas, a iniciativa ministerial pode se tornar numa oportuna peça de campanha eleitoral. Entenderam?
Bastidores
Primeira brasileira a conquistar medalha de ouro olímpico (1996), Jaqueline Pires, levou a discussão na reunião de hoje para os bastidores do esporte.
Campeã no vôlei de praia, ela questionou, na década de 1990, o pagamento de salários aos atletas da Seleção masculina, pela Confederação de Vôlei, o que não ocorria com as mulheres.
Sua ousada atitude lhe custou o abandono das autoridades, fechando-lhe as portas para qualquer atuação no Brasil, numa prática que se repete ainda hoje com quem fizer crítica ao sistema de gestão do nosso esporte olímpico.
O assunto é grave, um desrespeito aos princípios democráticos, pois tira da discussão – por ameaças e medo – o principal elemento da prática esportiva, o atleta. Sob este enfoque, o esporte não tem nada a ver com “educação”: é censura real e triste.
Preconceitos
A reunião se encaminhava para o final quando a professora Katia Rubio, autora de 15 livros na área da história e psicologia do esporte, trouxe à mesa temas ignorados nos debates: o preconceito racial e assédio sexual.
“Na entrevista com uma ex-atleta, ela me revelou que foi assediada pelo técnico durante quatro anos”, revelou Katia, dando a dimensão do problema.
Por tudo isso, aqui contado resumidamente, é que a reunião de hoje na Comissão de Turismo e Esporte tornou-se histórica. Porque levantaram questões graves, mas que não são discutidas por atletas, técnicos, dirigentes e muito menos pelos políticos. Ficou o ar a idéia de que com este ponto de partida “agora vai…” Será? duvido!
Repetição
Mas, mesmo em ritmo de Olimpíada 2016, patinamos na solução de problemas sérios e antiguíssimos, enquanto o Estado se omite de abrir a caixa preta do esporte para lhe dar o rumo efetivo que exige. Não de “mais recursos financeiros, mais apoio”, mas de metas, prioridades e gestão. Na falta disso, inventa entrar numa área que não lhe compete, o futebol.
Este panorama me leva, mais uma vez, aos versos do poeta Cazuza, em uma de suas expressões maiores da nossa música, em “O tempo não para”:
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades…”
Omissão
Deley, Romário, Danrley e Popó — todos ex-atletas — não participaram da reunião de hoje. Romário e Popó estiveram no local do encontro, mas com passagens efêmeras